Ambos reagiram de formas diferentes. Ela reagiu com segurança e sem se rebaixar ao mesmo nível, respondendo com inteligência aos comentários que lhe foram dirigidos (não importa aqui repetir essa parte da história) mas por dentro sentiu-se revoltada, frustrada e triste, precisando de desabafar os seus sentimentos. Ele reagiu com naturalidade, seguro dos seus direitos de estar onde está e a contribuir positivamente para o seu país, sentindo que algumas pessoas são simplesmente ignorantes e é o que é, e deu o exemplo da sua história à amiga.
Não sei qual a melhor resposta a dar nestes casos. Provavelmente, nem existe uma resposta certa, e tudo depende de cada contexto.
O que quero aqui relevar é: quando te descriminam, como te sentes e porque (achas que) sentes o que sentes?
Tenho estado a pensar nesta questão durante parte do dia, e cheguei à conclusão que a única forma de nos sentirmos mal pela descriminação é:
(i) identificarmo-nos com a descriminação a algum nível mais ou menos consciente, e/ou
(ii) termos expectativas de como o mundo deveria ser e não o é.
No primeiro caso, mesmo que conscientemente não te identifiques com o que te é dirigido, convido-te a refletires profundamente na origem dos teus sentimentos. Podes descobrir algo interessante sobre o teu sistema de crenças e sobre a forma como validas a tua existência, os teus valores, os teus comportamentos.
No segundo caso, convido-te a observares as tuas expectativas e a forma como te relacionas com elas. Provavelmente, poderás libertares-te das expectativas, abraçando a realidade tal como ela é. E nesse processo, descobrires novas formas de te relacionares com essa realidade, ganhando poder de acção sobre a mesma. É que, muitas vezes, estamos tão mergulhados nas expectavas, que nem reparamos nas oportunidades que nos rodeiam.
Por fim, e voltando à descriminação, existem muitas formas diferentes de lidar com elas, especialmente quando tomamos consciência que provém de pessoas que demonstram ignorância, medo, falta de auto-estima, e que devem estar em tal ponto de sofrimento que a única opção que conseguem identificar é o rebaixamento do outro. Talvez uma forma eficaz de lidar com isso seja pelo exemplo daquilo que queres ver à tua volta, pela compaixão. Mas isso já é outra história.