Às vezes perguntam-me como se descobre o que realmente nos apaixona. Por norma, respondo que é nas pequenas coisas. Não necessariamente nas que se fazem repetidamente, mas na forma como nos sentimos a fazê-las, sejam elas frequentes ou ocasionais. Quais as partes, os momentos, que geram sensações de concretização, satisfação, curiosidade e crescimento? Aquela sensação de momento perfeito? Para mim, um desses momentos é observar que cerca de 70% da minha roupa que trato é desportiva, e isso leva-me a reviver os bons momentos que passo na Box a treinar e a desafiar-me. Ou seja, coisas que me apaixonam são o desafio no desporto, a experimentação de diferentes actividades, o trabalho em equipa, a partilha em grupo, a cumplicidade nos relacionamentos, a contribuição e o crescimento em conjunto. E o CrossFit preenche várias destas paixões. E a ti? O que te apaixona?
Penso na paragem no tempo, na procrastinação, na escolha de outra coisa, na contemplação do momento, do corpo, do tempo, dos outros, no rico aborrecimento consciente, na observação do que é pelo que é, na assistência da passagem do tempo. Vejo a chuva cair e sinto a fria aragem no meu corpo. Dou atenção às extremidades frias do meu corpo, uma de cada vez, e no centro reconfortado pela roupa que visto, e nos contrastes destas diferentes partes do mesmo corpo. Observo as pessoas a passarem em passos acelerados, com malas e sacos cheios e chapéus de chuva, sem darem atenção ao que as rodeia, cada uma aparentemente perdida nos seus diversos pensamentos, talvez até como eu. As lojas enfeitadas, as ruas decoradas e a incessante música natalícia que as acompanha. Bebo o meu café quente, tranquilo, e penso que tudo isto passa, e pergunto-me: "O que é viver, afinal?" E ausento-me de tudo isto. E permanecendo no mesmo espaço, no mesmo lugar, volto-me para dentro. Respiro fundo. Fecho os olhos. Dou atenção a cada som, a cada sensação, a cada estímulo. Os sentidos intensificam-se. É como se, num ápice, fizesse parte do todo. Sinto leveza. Sinto conexão. Sinto eternidade. Sinto expansão. Sinto o que não é possível sentir. E volto aqui, agora. Abro os olhos. Bebo o último gole do café já frio, de textura única, aroma leve e sabor intenso. E as pessoas passam. E está tudo bem.
Por vezes escrevo. Um texto num dia. Outro texto uns meses depois. Outras vezes escrevo com frequência. Não escrevo todos os dias, mas bem podia fazê-lo. Parece que me sinto mais inspirado em dois estados bem distintos. Ou na depressão, não extrema, ou na paixão. Mas é claramente a depressão que mais facilmente me leva a pegar na esferográfica e no papel, mesmo que rasgado do tampo de uma mesa de restaurante num apressado almoço de semana. Agora é mais com recurso ao teclado virtual do telemóvel. Tão virtual como parecem ser cada vez mais as nossas vidas. Mas estava eu aqui a pensar que escrevo para expor as minhas ideias, os meus sentimentos, as minhas queixas, histórias e desejos. Por vezes, as minhas paixões. E é bom escrever. Uma das vantagens é o desabafo. Sabe bem desabafar. Deitar cá para fora. É certo que ninguém responde. Mas num desabafo, isso é somenos importante. E no final, se precisares de um abraço ou uma palavra amiga, contacta aquela pessoa que tu sabes. Assim ela não perde tempo e centra-se no essencial - dar-te apoio. Outra vantagem é a retrospectiva. E neste caso quero salientar dois tempos: o imediato e o longo prazo. No imediato consegue-se, muitas vezes, uma nova perspectiva. Uma outra forma de olhar que magicamente confere clareza. E nessa clareza surgem novas ideias, abordagens e possibilidades. É um processo interessante. Recordo-me agora de um momento em que me encontrava desesperado. O coração batia a mil, a respiração estava curta e rápida, e só pensava num limitado leque de negros cenários, num desfecho que avaliei como terrível. Pior, é que estava prestes a estar acompanhado por alguém com quem não queria, de todo, partilhar aquele desespero. E na aparente impotência de alterar o estado, de encontrar cenários alternativos, escrevi rapidamente a quatro amigos especiais. Assim que conclui o longo texto com o que estava a passar e a sentir, decidi reler. Afinal estava num estado alterado e a velocidade com que escrevi dava aso a erros e mensagens ininteligiveis. Ao reler, cheguei ao fim com um "E??!?..." O insight foi incrível. Não havia problema. Tudo se conciliou perfeitamente. O problema foi demasiado foco num único desfecho hipotético ao ponto de não ver mais nada. A respiração acalmou e tornou-se mais profunda. O ritmo cardíaco voltou ao normal. O sorriso voltou. E tudo ficou bem. Apaguei a longa mensagem e escrevi apenas "Obrigado por estarem aí." Fazer uma retrospectiva requer uma análise, e uma análise requer algum distanciamento. É este distanciamento que permite novas abordagens, por proporcionar uma alargada observação de um todo. E é nestas novas abordagens que se encontram novas possibilidades. A retrospectiva no tempo tem também vantagens. Observar as nossas ideias e sentimentos ao longo do tempo ajuda-nos de várias formas. Pode ser no reencontro com as nossas intenções, os nossos sonhos e vontades. Pode ser na perspectiva da nossa evolução pessoal. Pode ser na consistência de certos valores. Pode ser na observação de que já ultrapassamos tantas situações nas nossas vidas, que esta é apenas mais uma a acrescentar força, experiência e conhecimento, mesmo que possa não parecer nalgum momento em particular. A retrospectiva ajuda-nos também no nosso reconhecimento, na conexão connosco e na observação dos processos que podemos manter, melhorar ou alterar. E por vezes, é também extremamente divertido. Escrever... em cadernos físicos ou digitais, privados ou públicos, é uma forma de contactar-nos com a nossa essência. Por vezes é quase como meditar, só que fica registado para memória futura. Para as retrospectivas da vida. Para a nossa própria evolução pessoal. O que escreves agora? Grande parte do meu trabalho é de contribuição. Sendo, por um lado, mais fácil que angariar projectos para facturar, tem as suas próprias exigências e requer, sempre, um enorme espirito de dedicação e responsabilidade.
Ao contrário da generalidade dos projectos facturados (e estou a generalizar, porque existem surpreendentes e deliciosas excepções) há algo de extraordinário nestas experiências de contribuição que, noutras áreas não se encontram com tanta frequência. Podia descrever as inúmeras experiências que tenho tido e presenciado... mas vou apenas dar um resumo de algumas que me marcaram por um ou outro motivo. Podia descrever as famílias com que convivi em Moçambique, em que a mais velha e responsável da família tinha somente 14 anos. Não foi apenas uma família. E neste processo, além de lidar com a pobreza, a incerteza do futuro, a doença, a morte, a escassez do mais básico e que tão banalmente aqui damos por adquirido, dos naturais desafios próprios da idade... ainda lidam com a responsabilidade de cuidar dos mais novos, de garantir o sustento, a educação, a orientação para que cresçam saudáveis e felizes. Podia descrever o toxicodependente com quem tive uma descontraída conversa, ambos sentados no lanço de um passeio em Lisboa, Alcântara, enquanto ele comia um prato de comida quente e eu me interessava genuinamente pelos seus hábitos e estilo de vida. No fim, agradeceu de coração afirmando que eles, os sem-abrigo, são invisíveis à sociedade. E nós, os voluntários, tornamo-los visíveis ao mundo, sem qualquer julgamento, dando-lhes voz e uma sensação de valor, nem que fosse por apenas breves instantes. Podia descrever o homem que desistiu de viver, e que deambula inconsciente pelas ruas da cidade. Castiga-se numa vida de rua, bêbado sempre que pode, que dança com uma alegria contagiante mas que é, afinal, superficial. E chora minutos depois, desesperado pela morte da sua mulher e filha num acidente de viação anos antes. Perdeu tudo pela sua incapacidade de lidar com a realidade, de aceitar o desfecho, impotente perante a fatalidade. E aqueles minutos de atenção dão-lhe sentido de si, de vida, de valor. E dança, e ri, e partilha algumas das suas melhores memórias de família com o mesmo brilho nos olhos que uma criança a abrir o seu mais desejado presente. Podia descrever os olhos brilhantes de felicidade de alguns desempregados de longo termo. Aqueles a quem o rendimento mínimo de pouco vale e que vivem no desespero da dependência que é tão escassa e insuficiente. Os seus sentimentos de insuficiência, desconsiderados pelo mercado de trabalho. Os seus olhos abrem-se de esperança quando pessoas activas se preocupam, lhes dão atenção, e que contribuem para a sua aprendizagem e evolução pessoal. Afinal há esperança, e naqueles momentos, o mundo muda de tons de cinza para um colorido de vivas cores. Houvesse tempo e estrutura para dar continuidade a estes projectos, e mais pessoas interessadas em contribuir, a começar pelos organismos púbicos que dão, por vezes, apenas passos tímidos e curtos nessa direcção, e talvez tivéssemos mais independentes capazes de dar os seus próprios passos. Podia descrever os contactos com adolescentes cujo valor pessoal foi irresponsavelmente espezinhado, e se escondem agora atrás de armaduras de ferro para dissimular a sua angústia. Deixaram de acreditar em si mesmos, e dedicam-se mais à validação das críticas que lhes são dirigidas, dos negros futuros que lhes traçados, que na sua essência e capacidade de decidir e agira por si, para romperem o ciclo vicioso em que foram colocados. Fiquei especialmente feliz por ver alguns projectos que revertem estes ciclos, ajudando estes jovens a criarem novos futuros de valor para si, e para os que os rodeiam. Podia até mencionar tantos outros casos com os quais não tenho lidado directamente, mas que acompanho à distância através de amigos que, munidos da sua vontade de criar um mundo melhor, arregaçam as mangas e contribuem com o que sabem e podem, e que tantas vezes produzem autênticos milagres. Por fim... nem é preciso tanto. Basta dar atenção à pessoa do lado. Ajudar alguém em dificuldades na fila das compras de supermercado. Aliviar a carga de alguém a subir umas escadas com sacos pesados. Pagar um café a um desconhecido. Sorrir! Dizer "Olá!" ou "Bom dia!" Tantos pequenos gestos que podemos fazer... diariamente! E são tão fáceis. Grande parte do meu trabalho é de contribuição. Pode-se dizer que é, em certa medida, um acto egoísta. Dá-me prazer contribuir, ajudar, e sentir que fiz a diferença, por pequena que possa ser. Na verdade, é sempre pequena. Há uma grande parte que depende da outra pessoa. O nosso contributo, o meu contributo, é mais de exemplo, de arranque, de facilitar os primeiros passos. E é-me especialmente reconfortante ver caminhos a abrirem-se, passo a passo, por alguém que decidiu assumir a sua responsabilidade pessoal. Uma palavra, um gesto, um olhar... A contribuição, afinal, está ao alcance de toda e qualquer pessoa. E estou grato por isso! Acontece o que acontece!
Não há nada que possas fazer. O teu poder de controlo sobre o mundo é... mínimo. E estou a ser simpático. Na verdade, o teu poder de controlo é menor que um grão de areia quando comparado com a imensidão do vasto universo. E poucos sabem afirmar o real tamanho deste. Aliás, acho que ninguém sabe. Admitamos apenas que é grande, e muitas vezes maior do que qualquer de nós consegue imaginar. Então... o que acontece, acontece! É isso? É inevitável. Há um poder de influência que podes exercer. Sim, influência. Não controlo. Se o teu poder de controlo é o tal grão de areia (e atenção ao quadro de referência que usei há pouco), o teu poder de influência não é muito maior. E é só e apenas influência. Não quer dizer que consigas efectivamente mudar alguma coisa. Influencias. Apenas isso. Isto gera uma sensação de pequenez. E é mesmo. Somos pequenos. Então, para quê tanto alarido? Para quê tanta preocupação? Mas... repara bem. Pequenez não é assim tão mau. Na verdade, considero-a até benéfica. É, até, amorosa. É potente. É fantástica. É uma pequenez incrível e absolutamente inspiradora. Mas não é disto que quero falar. Estou-me a perder na maravilha que é a experiência humana, tão aparentemente insignificante e simultaneamente arrebatadora. As coisas acontecem e pronto. É isto! É isto que quero dizer. Ah! Há uma coisa mais. Já que não controlas tudo. Aliás, controlas muito pouco. Permite-me lembrar-te que controlas o essencial em todo este processo - TU! É muito simples... não controlas os eventos. Eventualmente, influencias os eventos. Mas não os controlas. Não os determinas. Acreditas que sim muitas das vezes. Eu também! E quando correm favoravelmente, lá surgem os gritos de glória e festejos de concretização. Who's the boss? Mas é uma ilusão. Não controlamos. Apenas tomamos consciência dos eventos e e acreditamos na ilusão de os ter controlado. Quanto muito, influenciámos. Conseguimos, de alguma forma, orientar um pouco para um lado ou para o outro. E isso já é um grande feito! Celebre-se, então, esse feito! Fazemos umas cenas que por vezes correm bem. Com a experiência tornamo-nos melhores a promover determinados resultados. E vale a pena festejar isso mesmo. Hurray! Bota palmas nisso, taças de champanhe ou o que quer que uses para celebrar. Sorri, dança e segue em frente. Partilha com toda a gente. Faz bem, essa celebração. Parabéns! Esta é a parte fácil. Quando tudo corre bem, ou mesmo que mais ou menos bem. Aproveita. Celebra. Mas... e quando corre... menos bem? E quando damos aquele tralho monumental? E quando fazemos merda? E quando nos encontramos num buraco tão escuro e profundo que nem a luz do sol chega lá abaixo? Dói! Pior que isso, é desesperante. Mais... parece que estamos irremediavelmente perdidos, e cria-se a ilusão desesperada de que assim ficaremos até ao fim dos dias. Mas não é verdade. E sabes isso. Sabes que já passaste por muitos buracos, vários falhanços, diversos momentos de impotência, desespero e solidão, e estás aí... a ler este texto. Sabes que, seja qual for o estado em que estás agora, já ultrapassaste desfiladeiros, montanhas e tempestades. E sobreviveste. Aprendeste de forma árdua, mas aprendeste. E agora, que olhas para trás, talvez até reconheças que esses períodos são os que maior aprendizagem e força te geraram para continuares agora no teu caminho, de cabeça erguida, com a segurança de que, aconteça o que acontecer, tu escolhes dar a volta por cima, e mesmo que não saibas ainda como, e meso que doa, e mesmo que custe, a solução está aí ao teu alcance. Mas também não era isto que queria falar... Vamos lá ver se me oriento. Lutar com a Vida ou Abraçar a Vida? Podes lutar na vida, batalhar, rumar contra a maré. É difícil. Emocionalmente desgastante. E controlas muito pouco. Então, o que fazer? Também bodes fluir com a vida. Encontrar o rumo dentro do rumo. Aplicar o teu poder de influência, e controlares aquilo que efectivamente controlas - tu! Alinhas-te com o que é verdadeiramente importante para ti, defines as tuas intenções, e toda a tua acção começa a sair com naturalidade? Fácil? Nem por isso. O difícil continuará a ser difícil. As montanhas, as tempestades, fazem parte da vida. Estão no percurso. Continuam lá, a existir, a testar-nos uma e outra vez. Mas algo fica diferente. Não custa. A parte emocional, quando alinhada, promove energia, serenidade, a capacidade de discernir cada vez melhor o que vale a pena fazer, e o que podemos deixar ir. Permite-nos dar atenção aos detalhes, apreciar o momento, estar verdadeiramente presente. A luta? Desaparece. O que fica é a vontade de agir, de seguir em consciência daquilo que verdadeiramente importa, na direcção do que queremos ver concretizado. E cada dia é uma pequena conquista. Cada dia sabe bem, por mais cansaço que possa trazer. Cada dia é uma preparação para o que queremos viver de seguida. E cada inicio de dia, uma renovada alegria pelo que se segue. Andei a pensar nisto quando me encontrei num desses muitos buracos. Um desses em que nada chega lá abaixo, e nos encontramos sós, no escuro, sem esperança. E de repente, comecei a observar-me por dentro, a descobrir-me, a identificar, afinal, o que me é importante e o que quero. E nesse processo, dez-se dia... Descobri, mais uma vez, que de nada adianta lutar com a vida. Ela segue, como sempre, independentemente dos teus desejos e vontades. Ao invés disso, escolho abraçar a vida. Curiosamente, ela começa-me a proporcionar pequenas grandes maravilhas. E isso, é majestoso! Observo em diferentes contextos um foco excessivo no comportamento. Quando algo corre bem, elogiam e/ou incentivam o comportamento. Quando algo corre mal, criticam e/ou corrigem o comportamento.
Na minha perspectiva, nenhuma destas ações promove uma verdadeira ligação com a pessoa. Embora possa ser agradável receber o elogio (eu, pelo menos, gosto de quando em vez) e que incentivem a reforçar comportamentos "bons" (seja lá o que "bom comportamento" signifique), a verdadeira essência não está a ser atendida. Adicionalmente, quer o elogio quer a crítica pouco acrescentam de valor ao desenvolvimento individual. O comportamento, sendo a única parte visível, é apenas o reflexo de algo invisível e inatingível aos outros. E por vezes, nem a própria pessoa tem uma noção clara das motivações do seu próprio comportamento. Elogiar... criticar... julgar por vezes pode ser a única forma que encontramos de exprimir o que sentimos em relação ao comportamento observado. Ou seja, mais um comportamento. Mas mais eficaz que isso, é ajudar a pessoa a ligar-se à essência do seu comportamento (se considerares útil e apropriado, claro). Assim como nós também nos podemos ligar à essência dos nossos comportamentos... sem julgamentos, sem tretas, sem justificações. E é nessa ligação que encontramos a melhor forma de nos exprimirmos, alterando ou não os comportamentos, adequando-os aos contextos e intenções, e melhorando a nossa autenticidade... não de uma forma forçada, correctiva... mas de uma forma natural, evolutiva e fluída. Diz-se que quem vê caras não vê corações. Parece-me apropriado adaptar para "quem vê comportamentos não vê corações". Deixa fluir! As certezas que pensas ter são muitas vezes apenas histórinhas na tua cabeça.
Na minha também! Enquanto trabalho agora num projecto, tenho mantido a televisão ligada num canal com programas sobre a natureza ou a vida nas grandes cidades. Vai passando um atrás outro...
Nessa sequência de imagens e aprendizagens, concluí algo banal e poderoso: Focamo-nos muitas vezes no nosso mundinho fechado e limitado, esquecendo-nos que há incríveis e fantásticas coisas a acontecer á nossa volta (já para não mencionar dentro de nós mesmos)... a todo o momento! E basta levantar a cabeça, olhar em volta, escutar com atenção, e sentir o ambiente. Andar, correr ou simplesmente parar. E sempre, mas sempre, há milhares de coisas a acontecer à nossa volta. E abrirmo-nos a isso pode ser revelador! A que coisas vais decidir prestar atenção agora? Àquele pensamento ou sentimento passado que te limita, ou às infinitas possibilidades que te rodeiam? Sim, eu sei! Nem sempre é fácil, e há situações que nos solicitam a maior atenção e concentração. Se estás numa dessas situações, talvez as possas atender agora de outra perspectiva. É que, mesmo essas situações, estão recheadas de... ...isso mesmo! Atreves-te a espreitar o outro lado agora? Aquele momento em que alguém partilha contigo a sua revolta e incompreensão pelos outros, por falarem enquanto alguém se manifesta no palco com dificuldade em se fazer ouvir, no preciso momento em que já todos se calaram e fazendo o mesmo barulho daqueles que critica - Extraordinário!
Sabes aquele comportamento que achas que não devias fazer (porque te faz mal, porque achas que é errado ou outro motivo qualquer) e ainda assim... o fazes?
Se te recriminas por isso, se sentes algum tipo de culpa, podes relaxar agora. És normal. És perfidamente normal. Está tudo bem! O teu sistema é perfeito tal como é e sabe exactamente o que é bom para ti. Por vezes, escolhe expedientes que podem ser prejudiciais nalgumas áreas, sabendo que te trazem algum tipo de benefício noutras áreas. A parte boa é que, agora que estás consciente disso e que sentes que esse comportamento te trás algumas vantagens, por obscuras que por vezes possam parecer, podes agora ir ao encontro de comportamentos alternativos que te proporcionam os mesmos benefícios e sejam mais ecológicos para ti. Sabes como? Quando criticas alguém, ou te comparas a alguém, qual o fundamento desses comportamentos?
O que estás a ganhar com isso? Qual a necessidade emocional que te leva a criticar ou a julgar (o outro ou a ti mesm@)? Ou seja, como te sentes em relação a ti ao longo desse processo? Tipicamente, a certeza induz-nos segurança, e a segurança induz-nos tranquilidade. Inversamente, a incerteza tende a induzir insegurança, o que por sua vez parece induzir intranquilidade. A intranquilidade expressa-se muitas vezes em ansiedade e stress. Curiosamente, há pessoas que encontram ansiedade na certeza, e tranquilidade na incerteza. Sentes curiosidade agora sobre a incerteza? Hoje cruzei-me, mais uma vez, com um cliente habitual de uma pastelaria onde costumo comprar uma broa deliciosa. Ele, que é obeso, costuma lá estar quase sempre que lá vou. E se vou a dias incertos e horas variadas, parece tratar-se de um cliente muito frequente, merecedor de um cartão dourado como aqueles das companhias aéreas.
Estava sentado, a conversar com outro cliente como costume, e a comer o que me pareceu um pão-de-leite ou croissant, aparentemente com manteiga e fiambre. Puxando pela memória, sempre que o vejo está a comer algo deste género O meu pensamento na altura foi de julgamento. Não propriamente um julgamento maldoso, mas algo do estilo "Como não havia de estar obeso, se sempre que o vejo está a comer pão ou bolos?" Logo de seguida uma voz interior se fez ouvir, perguntando: "Mas como sabes que ele se sente mal como está? Como sabes que ele quer não estar obeso? E o que há de errado com isso? E se ele se sentir muito bem assim? E se deixar de comer o que come para ficar em melhor forma for, para ele, pior que manter-se obeso e entregar-se aos seus prazeres gastronómicos? E que julgamentos poderão outras pessoas fazer de ti. sobre alguns dos teus comportamentos, sem ter em conta toda a tua 'realidade', como estás a fazer em relação àquele cliente?" Nesse instante comecei a sorrir e a pensar de onde teria vindo aquela necessidade de julgar. E de que me serviria esse julgamento. Afinal, aquele julgamento só considerou a minha perspectiva daquilo a que posso chamar de realidade, com base em pressupostos fictícios, tornando assim o julgamento numa perfeita alucinação. É um julgamento que não serve ninguém, nem a mim, nem aquela pessoa. E se a minha intenção fosse ajuda-lo de alguma forma, a primeira coisa a fazer seria conhecer os seus desafios, e eu não conheço os seus desafios. O que observei depois foi esse mesmo cliente a conversar com a pessoa da mesa ao lado. As expressões de ambos, olhos nos olhos, os gestos ondulados e a ligeira inclinação dos corpos na direcção um do outro, transmitiu-me serenidade e harmonia. Parecia-me, também, que ele se estava a deliciar com o pedaço de comida que segurava numa das mãos, pela forma como parecia segurar delicadamente no último pedaço. É apenas uma interpretação, seu sei. E toda esta observação fez-me sorrir de satisfação. Fez-me sentir bem ver duas pessoas em aparente harmonia. É curioso o que podemos observar quando deixamos de julgar, focando a nossa atenção no que está a acontecer e não naquilo que julgamos estar a acontecer. Colocando o nosso foco naquilo que efectivamente está à vista em vez do que alucinamos poder estar a acontecer. Deixar de observar os outros de acordo com os nossos princípios, os nossos valores e intenções, e deixa-las estar de acordo com os seus próprios princípios, valores e intenções. E quem sabe... talvez assim ainda nos arrisquemos a descobrir magia ao virar da esquina... Ha dias iguais e dias diferentes, dependendo da perspectiva de onde observas e daquilo em que te focas.
Por vezes oiço críticas a determinada coisa, atribuindo-se a essa coisa determinadas qualidades e valores. Embora compreenda, e por vezes até concorde de uma forma geral, com algumas das observações, o que realmente identifico é uma confusão do que se observa com a coisa em si.
Por exemplo, algumas (e cada vez mais) pessoas criticam o Facebook com afirmações como "é uma ferramenta negativa", "é uma demonstração de vidas falsas" ou "aquela gente é só vidas perfeitas e felizes e no fundo são uns tristes e frustrados". São afirmações que resultam, provavelmente, da observação de certas e determinadas partilhas que geram essas interpretações e avaliações, depois generalizadas. Mas o Facebook, e continuando neste exemplo (poderíamos estar a falar de qualquer outra coisa) é apenas uma ferramenta onde milhões de pessoas partilham, sim, as suas frustrações, raiva e tristezas, algumas criam "falsas identidades" ou partilham vidas fictícias ou desejadas, mas é também uma ferramenta onde milhões de outras pessoas partilham as suas alegrias, pequenos momentos, promovem contactos de outra forma mais distantes, promovem ideias, movimentos e serviços, inspiram e/ou ajudam outras pessoas. Ou seja, é uma ferramenta como outra qualquer, e que é usada de formas distintas por uns e por outros. Por outras palavras, é mais ou menos como um encontro de ex-alunos da escola e que já não vês há 5, 20 ou 50 anos. Uns são sinceros, outros nem por isso. Uns partilham alegrias e outros partilham tristezas. E o problema não é a reunião em si, mas sim a forma como se lida com isso e com quem de escolhe relacionar-se nesses contextos. Ou seja, e voltando ao exemplo do Facebook, escolhe com quem te relacionas e escolhe a forma como queres lidar com cada contexto. Limpa o teu feed de notícias! Em que outros contextos sentes que poderias beneficiar de uma "limpeza de notícias"? Hà uns anos, uma pessoa especial partilhou uma frase comigo que lera num livro:
- "Dormimos diariamente com dois estranhos." Essa parte do livro, de desenvolvimento pessoal, centrava-se dos relacionamentos amorosos, assente numa cultura monogâmica. E claro que podemos transpor para outras realidades, como o políamor, por exemplo. A intenção da frase é que mal nos conhecemos a nós próprios, quanto mais a(s) outra(s) pessoa(s) com quem partilhamos um projecto de vida. E daí o dormirmos com dois estranhos - o outro e nós próprios. E não é um estranho no sentido assustador do termo. É um estranho no sentido em que há tanto ainda por descobrir, tanto a que nos podemos permitir surpreender, aprender e crescer a cada momento, que faz com que esta experiência subjectiva humana seja absolutamente fascinante. E esse fascínio apenas termina no momento em que nos acomodamos a uma "imagem estática" ou comparamos o outro, ou nós próprios, a expectativas construídas. E de tempos a tempos surge a surpresa, algo novo, por vezes inesperado.. Dá-se uma mudança, por pequena que seja. há uma nova atitude, uma nova orientação, uma reviravolta. E isso não é mau nem bom, é apenas o resultado da descoberta, das experiências, da natural mudança constante a que estamos sujeitos. Quando observamos essa mudança à luz da consistência parece estranho, por vezes até assustador. Quando observamos à luz da curiosidade, há a descoberta dessa novidade, e que pode ser refrescante e revigorante. Ter a sensação de que se conhece o outro é uma ilusão. Podemos identificar padrões, e com isso até antecipar comportamentos. Conhecer é algo mais profundo. E se nem a nós próprios nos conhecemos profundamente, de quem temos acesso aos mais íntimos pensamentos e sentimentos, como podemos presumir que conhecemos o outro? Eu acrescentaria algo à frase inicial. No dia em que deixemos de dormir com estes estranhos que nos são tão próximos, esta coisa dos relacionamentos deixa de ter piada. Deixam de existir surpresas. Deixa de existir a oportunidade da descoberta e aprendizagem. A vida torna-se um aborrecimento, e os relacionamentos perdem todo o sentido. É neste reencontro do outro e de nós próprios, que nos descobrimos e crescemos. É nesta abertura ao desconhecido que aprendemos e evoluímos. Deixo uma proposta de reflexão que talvez queiras abraçar agora: - Qual a parte de ti que ainda não descobriste, e que ao descobrires te abre uma nova possibilidade, um novo caminho, talvez até te proporcione a tua nova grande aventura? A Joana detestava o seu trabalho. Queixava-se do sacrifício que fazia todos os dias para ir trabalhar, e que o seu sonho profissional não estava, de todo, a ser vivido. Enquanto descrevia esta situação, a sua expressão era de dor e cansaço, e todo o corpo se fechava em si mesmo.. A pergunta óbvia surge naturalmente - "O que te impede de seguires o teu sonho?" - e a resposta não podia ser mais comum - "O meu sonho paga muito pouco, e seria difícil viver com aquele dinheiro." "E esse dinheiro que ganhas neste trabalho, compensa assim tanto?" A Joana acenou que sim com a cabeça, e após lhe solicitar alguns exemplos, explicou: - "Permite-me providenciar conforto à minha família, e ter a satisfação de lhes dar um lar seguro e confortável. Adoro ver os meus filhos felizes na escola que tanto gostam, e de poderem desenvolver os seus passatempos com alegria e entusiasmo. Gostamos muito de ir passar férias fora uma vez por ano, e não dispensamos alguns fins-de-semana de passeio em família a conhecer os vários recantos deste nosso país encantador. Ocasionalmente... bem, várias vezes, tenho jantares com as minhas amigas e divertimo-nos imenso, especialmente com a Maria, que é a minha grande amiga de infância. Gosto de ir ao cinema com o Paulo, só os dois, e comermos aquele balde de pipocas como se fossemos adolescentes, e de vez em quando deixamos os miúdos nos avós e passamos a noite num hotel após o cinema. É a nossa noite! E nos aniversários, fazemos sempre algo diferente e especial." Quando acabou de descrever o quão importante era o seu rendimento, a sua expressão era de felicidade. Diria, até, de imensa felicidade. Todo o corpo se abriu, agora mais expansivo e enérgico, enquanto emanava uma certa serenidade. Era uma pessoa totalmente diferente da anterior. Foi nesse momento que percebeu que, afinal, gostava muito do seu trabalho. PS: personagens e contexto fictícios, baseados numa situação real. Quando te lanças ao encontro de ti, fixas-te na ideia de ti, na tua história, nos teus desejos, ou nas infinitas possibilidades de ti?
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