Muitas vezes oiço criticas em relação ao estado do tempo. Está frio. Chove. Está nublado. Está demasiado calor... Até aqui nada de novo, certo? Também não é novidade as pessoas mudarem o seu estado emocional com o estado do tempo. Está chuva, estou triste. Está nublado, estou triste. Está frio, estou triste. Está demasiado calor, estou insuportável! Ok... há outros estados emocionais além deste, e bem sei que estou a generalizar. Eu não sou uma dessas pessoas, e possivelmente tu também não. E de certeza que reconheces várias pessoas nestes papeis. Se não é tristeza é desânimo, desmotivação, falta de energia, medo de alguma doença ou constipação. Pergunto-me se será do tempo, ou o simples reflexo do que vai dentro de cada um. Mas isso daria outro texto. Não é o estado do tempo que determina o meu estado emocional. Aliás, sentir estas diferenças - agora frio, depois calor - proporciona-me experiências diferentes, acesso a sensações e estados do corpo físico distintos, melhora o meu sistema imunológico, ajuda-me a apreciar a beleza de cada estado, cada momento, e faz-me sentir vivo. Viver cada experiência como é, tal como é, é de uma sensibilidade, abertura e curiosidade extraordinárias. E as descobertas podem ser incríveis, simples e eternas. E vale mesmo a pena. E o mesmo posso afirmar em relação a (quase) todas as restantes experiências (sabendo que algumas dispenso experienciar! [risos]) O significado que atribuo a um dia nublado pode ser tão rico, dinâmico e enérgico como aquele que atribuo a um dia de sol. E acima das nuvens está um belo esplendor de luz. As diferentes tonalidades de cinza são igualmente fantásticas. A sensação húmida do ar, os diferentes aromas da terra molhada, a frescura das gotas de chuva a escorrer pela cara, as poças de água que com a idade nos esquecemos de pular e desfrutar, os reflexos 5, o arco-íris que se forma no horizonte, a verdura que desponta e cresce, a vida que pulsa a cada gota, cada riacho, cada rio, cada onda do mar. E isso é único, poderoso e absolutamente maravilhoso. Aliás... "Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol. Ambos existem. Cada um é como é." (Poema de Alberto Caeiro, Fernando Pessoa). Hoje não me levantei às 5 da manhã. Aliás, são mais as vezes em que adormeço perto dessa hora que acordo perto dessa hora. Não fiz o treino intenso de manhã. Não fiz a meditação tradicional. Não fiz Yoga nem Pilates. Não tomei o pequeno-almoço fit e saudável (aliás, não comi, de todo). Não planeei o dia nem fiz planos. Não li um livro. Não falei com ninguém. Silêncio. Portanto, não faço parte desse famoso e audacioso clube das 5 da manhã. Hoje levantei-me, tratei de mim, sai à rua e passeei sem rumo certo. Só tinha uma intenção e sem obrigação: beber um café. Era mais uma espécie de orientação, mas que podia muito bem nem se concretizar. E nessa intenção decidi relaxar, apreciar o momento e ouvir um podcast. Nalgum momento o café se iria materializar... ou não. Passeei pelas ruas da cidade e parei em vários momentos para observar aspectos e perspectivas da arquitectura de alguns prédios. Observei também algumas pessoas que passavam por mim, os seus comportamentos a sós ou acompanhadas. Não ouvia o que diziam e apenas observava os seus movimentos, os seus gestos, os seus olhares. Também parei para ver os patos e os gansos no parque, ao sol, a limparem as suas penas. Apreciei o sol por entre os ramos das árvores, e os aromas oriundos dos cafés, da terra molhada do parque, dos carros que passam, do tabaco dos fumadores, a brisa leve e fria que passava por mim, dos cães que passeavam com os seus donos, e apreciei o contraste da humidade que se fazia sentir no ar com o sol a acarinhar-me a pele da face. Vi pessoas a andarem rápido nas suas tarefas matinais, assim como algumas outras pessoas a passearem calmamente, a sós, em família ou com os seus animais de estimação. O podcast ía rolando, mas confesso que não lhe prestei muita atenção em boa parte do tempo. Deixei-me estar em cada momento como era. Umas vezes a observar, outras a sentir, e outras na curiosidade do conteúdo do podcast. Ao fim de algum tempo, neste longo passeio, dei por mim à porta de um dos cafés habituais. Entro... não entro. Não sei. Entro. Olhei em volta e escolhi o que me pareceu o melhor lugar de todos. Abrigado da brisa fria mas ao sol, com pequenos riscos de sombras de alguns ramos da árvore ali ao lado. Bebi o café, observei as pessoas, li uns artigos online. E voltei a casa, quase a horas de preparar o almoço. Gosto muito das partilhas das pessoas do clube das 5 da manhã. São geralmente enérgicas. Levantam-se às 5 e fazem logo isto e aquilo e mais a outra cena. Às 9 horas já têm meio dia feito, e ainda lhes restam 10 ou 12 horas pela frente para serem altamente produtivas. Chegam ao fim de cada dia cansadas, mas com um sentimento de concretização incrível, por vezes invejável, e as semanas são repletas de metas atingidas com sucesso. Admiro essa capacidade. Aplaudo-a até. Menos uma coisa: e parar? E estar simplesmente a fazer nada? E contemplar? Por vezes parece que até aqueles minutos de meditação fazem parte de um plano milimetricamente estudado e executado. Mas sei que não são todas assim. Algumas pessoas levantam-se cedo para aproveitar melhor o dia para si mesmas, longe da confusão das enchentes do dia-a-dia. Têm dias tão cheios que sentem falta daquele momento a sós, ou para aquelas coisas pessoais que noutros momentos do dia parecem ser mais desafiantes de serem feitas. Ler um livro com calma, tomar o pequeno-almoço tranquilamente, darem mais atenção ao seu corpo e alma. Fazerem aquela meditação sem interferências externas. São momentos de conexão pessoal. Mas também podem ser apenas momentos de mais tarefas, a adicionar às tantas que já temos ao longo do dia. E nesta observação pergunto: Por que raio fazes o que fazes? Para quem? Com que intenção? Há muitos clubes. E o meu clube é o não-clube, que é também um clube. Não tem propriamente um nome. Ou talvez possa ser o clube do momento. Isto agora faz-me sentido, e talvez por isso deva ser o que talvez deva fazer. Agora neste instante, ou para algum resultado mais abrangente, mais lato, ou mais à frente no tempo. Desde que haja uma intenção... desde que me faça sentir bem neste estar mais abstrato da vida... e se te faz sentir bem, continua. Por ti. Para ti. É mesmo só para ti. Parabéns ao que pertencem ao 5am Club, e a todos os outros clubes também! E obrigado pelas vossas partilhas inspiradoras. A vida continua às 5, às 12 e às 24 também ;) Se te puseres a pensar em coisas negativas, sentes-te mal.
Se te puseres a pensar em coisas positivas, sentes-te bem Se te puseres a pensar em coisas mais ou menos, sentes-te mais ou menos. Parece que aquilo em que pensamos, as nossas alucinações privadas e pessoais, comandam o nosso estado. E... quem comanda os pensamentos? Nesta altura deves estar a pensar em como tudo isto pode ser fantástico e uma absoluta farsa, não é? É que, "se fosse assim tão fácil, podíamos gerir o nosso estado a qualquer momento." Esta é a típica resposta que recebo tantas vezes ao referir a aparente simplicidade deste processo. E é aqui que se encontra o ponto essencial: nem tudo o que é simples, é fácil. O processo é simples. Aquilo em que pensas, ou seja, onde colocas o teu foco, determina o teu estado. Fazê-lo num curto espaço de tempo também é fácil. Fazê-lo de forma duradoura, nem sempre, embora possível e já o fizeste várias vezes também. É que, aquilo em que pensas repetidamente parece estar associado a um conjunto de crenças sobre a vida, necessidades emocionais e experiências passadas. E isso é mais profundo. Ainda assim, experimenta lá brincar agora com estas mudanças de pensamentos, e observa as alterações no teu estado: entre tristeza ou felicidade, insegurança ou confiança, fraqueza ou força, introverção ou extroversão... de entre muitos outros estados. Imagina agora as possibilidades... Acontece o que acontece!
Não há nada que possas fazer. O teu poder de controlo sobre o mundo é... mínimo. E estou a ser simpático. Na verdade, o teu poder de controlo é menor que um grão de areia quando comparado com a imensidão do vasto universo. E poucos sabem afirmar o real tamanho deste. Aliás, acho que ninguém sabe. Admitamos apenas que é grande, e muitas vezes maior do que qualquer de nós consegue imaginar. Então... o que acontece, acontece! É isso? É inevitável. Há um poder de influência que podes exercer. Sim, influência. Não controlo. Se o teu poder de controlo é o tal grão de areia (e atenção ao quadro de referência que usei há pouco), o teu poder de influência não é muito maior. E é só e apenas influência. Não quer dizer que consigas efectivamente mudar alguma coisa. Influencias. Apenas isso. Isto gera uma sensação de pequenez. E é mesmo. Somos pequenos. Então, para quê tanto alarido? Para quê tanta preocupação? Mas... repara bem. Pequenez não é assim tão mau. Na verdade, considero-a até benéfica. É, até, amorosa. É potente. É fantástica. É uma pequenez incrível e absolutamente inspiradora. Mas não é disto que quero falar. Estou-me a perder na maravilha que é a experiência humana, tão aparentemente insignificante e simultaneamente arrebatadora. As coisas acontecem e pronto. É isto! É isto que quero dizer. Ah! Há uma coisa mais. Já que não controlas tudo. Aliás, controlas muito pouco. Permite-me lembrar-te que controlas o essencial em todo este processo - TU! É muito simples... não controlas os eventos. Eventualmente, influencias os eventos. Mas não os controlas. Não os determinas. Acreditas que sim muitas das vezes. Eu também! E quando correm favoravelmente, lá surgem os gritos de glória e festejos de concretização. Who's the boss? Mas é uma ilusão. Não controlamos. Apenas tomamos consciência dos eventos e e acreditamos na ilusão de os ter controlado. Quanto muito, influenciámos. Conseguimos, de alguma forma, orientar um pouco para um lado ou para o outro. E isso já é um grande feito! Celebre-se, então, esse feito! Fazemos umas cenas que por vezes correm bem. Com a experiência tornamo-nos melhores a promover determinados resultados. E vale a pena festejar isso mesmo. Hurray! Bota palmas nisso, taças de champanhe ou o que quer que uses para celebrar. Sorri, dança e segue em frente. Partilha com toda a gente. Faz bem, essa celebração. Parabéns! Esta é a parte fácil. Quando tudo corre bem, ou mesmo que mais ou menos bem. Aproveita. Celebra. Mas... e quando corre... menos bem? E quando damos aquele tralho monumental? E quando fazemos merda? E quando nos encontramos num buraco tão escuro e profundo que nem a luz do sol chega lá abaixo? Dói! Pior que isso, é desesperante. Mais... parece que estamos irremediavelmente perdidos, e cria-se a ilusão desesperada de que assim ficaremos até ao fim dos dias. Mas não é verdade. E sabes isso. Sabes que já passaste por muitos buracos, vários falhanços, diversos momentos de impotência, desespero e solidão, e estás aí... a ler este texto. Sabes que, seja qual for o estado em que estás agora, já ultrapassaste desfiladeiros, montanhas e tempestades. E sobreviveste. Aprendeste de forma árdua, mas aprendeste. E agora, que olhas para trás, talvez até reconheças que esses períodos são os que maior aprendizagem e força te geraram para continuares agora no teu caminho, de cabeça erguida, com a segurança de que, aconteça o que acontecer, tu escolhes dar a volta por cima, e mesmo que não saibas ainda como, e meso que doa, e mesmo que custe, a solução está aí ao teu alcance. Mas também não era isto que queria falar... Vamos lá ver se me oriento. Lutar com a Vida ou Abraçar a Vida? Podes lutar na vida, batalhar, rumar contra a maré. É difícil. Emocionalmente desgastante. E controlas muito pouco. Então, o que fazer? Também bodes fluir com a vida. Encontrar o rumo dentro do rumo. Aplicar o teu poder de influência, e controlares aquilo que efectivamente controlas - tu! Alinhas-te com o que é verdadeiramente importante para ti, defines as tuas intenções, e toda a tua acção começa a sair com naturalidade? Fácil? Nem por isso. O difícil continuará a ser difícil. As montanhas, as tempestades, fazem parte da vida. Estão no percurso. Continuam lá, a existir, a testar-nos uma e outra vez. Mas algo fica diferente. Não custa. A parte emocional, quando alinhada, promove energia, serenidade, a capacidade de discernir cada vez melhor o que vale a pena fazer, e o que podemos deixar ir. Permite-nos dar atenção aos detalhes, apreciar o momento, estar verdadeiramente presente. A luta? Desaparece. O que fica é a vontade de agir, de seguir em consciência daquilo que verdadeiramente importa, na direcção do que queremos ver concretizado. E cada dia é uma pequena conquista. Cada dia sabe bem, por mais cansaço que possa trazer. Cada dia é uma preparação para o que queremos viver de seguida. E cada inicio de dia, uma renovada alegria pelo que se segue. Andei a pensar nisto quando me encontrei num desses muitos buracos. Um desses em que nada chega lá abaixo, e nos encontramos sós, no escuro, sem esperança. E de repente, comecei a observar-me por dentro, a descobrir-me, a identificar, afinal, o que me é importante e o que quero. E nesse processo, dez-se dia... Descobri, mais uma vez, que de nada adianta lutar com a vida. Ela segue, como sempre, independentemente dos teus desejos e vontades. Ao invés disso, escolho abraçar a vida. Curiosamente, ela começa-me a proporcionar pequenas grandes maravilhas. E isso, é majestoso! Enquanto trabalho agora num projecto, tenho mantido a televisão ligada num canal com programas sobre a natureza ou a vida nas grandes cidades. Vai passando um atrás outro...
Nessa sequência de imagens e aprendizagens, concluí algo banal e poderoso: Focamo-nos muitas vezes no nosso mundinho fechado e limitado, esquecendo-nos que há incríveis e fantásticas coisas a acontecer á nossa volta (já para não mencionar dentro de nós mesmos)... a todo o momento! E basta levantar a cabeça, olhar em volta, escutar com atenção, e sentir o ambiente. Andar, correr ou simplesmente parar. E sempre, mas sempre, há milhares de coisas a acontecer à nossa volta. E abrirmo-nos a isso pode ser revelador! A que coisas vais decidir prestar atenção agora? Àquele pensamento ou sentimento passado que te limita, ou às infinitas possibilidades que te rodeiam? Sim, eu sei! Nem sempre é fácil, e há situações que nos solicitam a maior atenção e concentração. Se estás numa dessas situações, talvez as possas atender agora de outra perspectiva. É que, mesmo essas situações, estão recheadas de... ...isso mesmo! Atreves-te a espreitar o outro lado agora? Há uma essência em ti que, enquanto não for atendida - devidamente reconhecida, aceite e amada incondicionalmente - nunca te permitirá reconhecer nem valorizar devidamente as ajudas e/ou conquistas externas que te ocorram. Essas coisas externas estarão lá, e farão o seu efeito. Esse efeito, contudo, será passageiro, supérfluo ou nem sequer será notado por ti, por mais benefícios directos ou indirectos que te provenham, por mais grandiosos que possam ser. Haverá sempre um vazio por preencher, uma sensação de insuficiência, de desnorteio ou ilusória segurança.
Há uma essência em ti que, no momento em que é agora atendida - devidamente reconhecida, aceite e amada incondicionalmente - te permite aceder neste instante a um estado de plenitude de satisfação, independentemente das ajudas e/ou conquistas externas que te ocorram. E essas coisas externas serão então reconhecidas, valorizadas e agradecidas, não importa a sua magnitude. E é nesse momento que tudo fará sentido na tua felicidade, apesar dos desafios, apesar da dor, apesar de tudo. É nesse momento que, aconteça o que acontecer, estás por inteiro, no teu caminho. ...talvez possas só e apenas dar um sentido e sincero abraço (nem que somente imaginado).
É que, por vezes, a pessoa que grita e barafusta está só a expressar uma necessidade de conexão e incompreensão perante um contexto. Quando criticas alguém, ou te comparas a alguém, qual o fundamento desses comportamentos?
O que estás a ganhar com isso? Qual a necessidade emocional que te leva a criticar ou a julgar (o outro ou a ti mesm@)? Ou seja, como te sentes em relação a ti ao longo desse processo? O motivo pelo qual fazes o que fazes nem sempre é óbvio.
Muitas vezes, escondido numa motivação superficial (e normalmente óbvia e evidente), esconde-se o verdadeiro motivo que determina o teu comportamento. Por vezes aquilo que parece ser, é apenas uma máscara de algo mais inconsciente. Talvez possas, agora, observar o teu comportamento com uma curiosidade mais... conscientemente inconsciente. Tipicamente, a certeza induz-nos segurança, e a segurança induz-nos tranquilidade. Inversamente, a incerteza tende a induzir insegurança, o que por sua vez parece induzir intranquilidade. A intranquilidade expressa-se muitas vezes em ansiedade e stress. Curiosamente, há pessoas que encontram ansiedade na certeza, e tranquilidade na incerteza. Sentes curiosidade agora sobre a incerteza? Quando alguém te apresenta um problema, o "problema" não é o problema.
Se te envolveres na história podem acontecer, de uma forma geral, duas coisas: - distancias-te ao afirmares que o problema não é um problema, apresentando contra-exemplos pessoais (ou comparações com outros contextos), ou - acedes ao problema imergindo no suposto problema. Em qualquer destas situações a contribuição para o outro sair do problema é relativamente baixo., ainda que possível. No primeiro caso a outra pessoa tenderá a sentir-me mal por achar que tem um problema, dados os contra-exemplos ou comparações com situações bem mais desafiantes. No segundo caso sente-se acompanhada, mas continua sem vislumbrar saídas, e podem ir ambos beber uns copos e afogar as mágoas. Há uma terceira hipótese - com compaixão, ajudar a pessoa a lidar com o "problema", que não é a história que conta, e sim a forma como lida com o contexto onde se encontra o suposto problema. Parece que, afinal, nada é um problema. Apenas a forma como lidamos com as coisas determinam se as coisas são problemas, ou oportunidades. A dor pode ser real agora.
O sofrimento, por outro lado, já parece depender de uma construção mental assente na memória de um passado ou na ansiedade de um futuro alucinado. Vejamos... de que formas se pode sofrer sem passado nem futuro? Então... esquecemos? Deixamos de criar cenários futuros? Esquecer retira-nos a capacidade de aprender e evoluir. Deixar de criar futuros possíveis retira-nos a capacidade de sonhar e melhor escolher comportamentos presentes. Então... o sofrimento é inevitável? Nalgumas vezes, talvez. Na maioria das vezes, acredito que é perfeitamente evitável. E mesmo quando se manifesta, só pela compreensão do seu processo se pode aligeirar e até anular o seu efeito. Como? Aaaah... isso já é outra conversa... A coragem é muitas vezes definida como a ausência do medo.
Mas não será isso inconsciência ou imprudência? Há quem afirme que a verdadeira coragem é seguir em frente, mesmo que com medo. Seja qual for a definição, ter a noção do risco, das probabilidades e acreditar na possibilidade do sucesso parecem ser ingredientes a considerar. Como se define coragem, então? Será a ausência de medo como alguns dizem? Será seguir em frente apesar do medo? E o que define uma pessoa corajosa? Quais os comportamentos que se definem como corajosos? Enfrentar um incêndio de grandes proporções com poucos meios? Enfrentar um forte adversário num momento decisivo? Coragem... “Coragem” deriva do latim - Coraticum. Esta palavra é composto por "cor", que significa "coração", e o sufixo "aticum", que é utilizado para indicar uma ação referente à palavra que a precede. Ou seja, "coraticum" significa "ação do coração". Mas... e então? Coragem é agir com o coração? Na maioria dos casos, coragem surge associada a grandes feitos com poucos meios, como um soldado que enfrenta um regimento invencível, como uma bombeira que se atira para dentro de um prédio em chamas para salvar um gato ou uma pessoa anónima que sobe 3 andares pelas paredes exteriores para salvar uma criança sozinha pendurada numa varanda. E quaisquer destes actos são... ilógicos, completamente irracionais. Todas as probabilidades estão contra a pessoa que as concretiza, e no entanto... lá estão elas. Frequentemente são apelidadas de pessoas heróicas. E basta ver a quantidade de filmes, séries e documentários com referências deste género. E neste sentido, talvez a coragem seja mesmo uma ação comandada pelo coração. Não pelo orgão em si, mas pelo significado que lhe está associado. Mas a coragem não se limita a actos heróicos. Coragem é a firmeza de ânimo ante o perigo, os reveses e os sofrimentos. É a perseverança com que se prossegue no que é difícil de se conseguir (in Dicionário Priberam). E isto é muito mais que comportamentos ditos heróicos com que tantas vezes definimos coragem. Coragem parece ser, antes de mais, a capacidade de se manter fiel à sua essência, independentemente das circunstâncias É o cuidar e assegurar do que é central e fundamental na tua existência - o teu centro. Aquilo que defines como a coisa mais importante em ti - a tua essência, a tua natureza, a tua fragilidade - e manteres-te confiante e com estima a partir desse ponto. E nem sempre é fácil. Somos muitas vezes desafiados quanto a essa essência, e noutras vezes confundimos essa essência com o ego. Marianne Elliott, que teve a sua dose de aventuras no Afeganistão em defesa dos direitos humanos fez uma pesquisa sobre coragem com resultados surpreendentes. Ao questionar pessoas sobre actos de coragem, as respostas mais frequentes foram actos como parentalidade, "sair do armário", apaixonar-se, sair de uma relação ou tomar conta de um familiar doente. E parece que olhar olhos nos olhos para lidar com tantas destas situações é o ponto fulcral onde a coragem se torna mais necessária... ou evidente. E a vulnerabilidade parece fazer parte do processo: "“A coragem começa com o aparecermos e deixarmo-nos ser vistos.” - Brené Brown. Paulo Coelho afirmou que todo o acto de coragem é um acto de amor. Osho afirmou que se trata de um caso de amor com o desconhecido. E a tua coragem talvez comece por te amares incondicionalmente, agora, assim mesmo, neste instante tal como estás. E talvez possas experimentar e estares na disposição de falhar, redesenhar e recomeçar. Oscar Wilde afirmou que a experiência é apenas o nome que damos aos nossos erros, e disto conclui-se que as boas decisões resultam da experiência conseguida a partir de más decisões. Ou seja, não existem más decisões. Coragem pode ser desistir e deixar ir, prosseguir e manter a consistência do curso previamente definido, mudar de direcção para algo completamente novo, pode ser ligarmo-nos à pessoa ao nosso lado ou do outro lado, por mais improvável ou distante que pareça estar. "A coragem não é simplesmente uma das virtudes, mas a forma de todas as virtudes no ponto de teste, o que significa no ponto mais alto da realidade." ~ C. S. Lewis Coragem é seres tal como és, naquilo que te define no mais profundo de ti, sem limitações ou dependências e apesar dos contextos e do que pensarem ou disserem de ti. É seguires o teu rumo de acordo com o que sentes e acreditas, criando em ti e nas pessoas à tua volta o que mais desejas ver no mundo. Coragem é desbravares o teu caminho apesar das consequências. Coragem é estares presente em ti, no momento, tal como estás e como é, aceitando isso mesmo com naturalidade e agindo no sentido do que queres ver e sentir no momento seguinte. Coragem é pedir ajuda nos momentos certos. Coragem é dar sem esperar de volta. Coragem e acordar todos os dias, sorrir, e fazer deste tia o melhor dia com o que tens à mão. Coragem é olhares olhos nos olhos a tua alma, e espelhares essa alma naqueles que te são mais queridos, sem filtros. Coragem é o que vejo tantas vezes em tanta gente à minha volta, e em ti também. Quando a esta pergunta se seguem respostas baseadas no que acontece fora de ri, nomeadamente alguém que não tu, estás a abrir espaço para a tua própria infelicidade.
Por mais importantes que sejam outras pessoas na tua vida, isso tem única e exclusivamente a ver contigo, e não com elas. Experimenta considerar os seguintes pressupostos, e observa como isso pode alterar de forma positiva os teus relacionamentos:
Por vezes, e muito naturalmente, surgem questões como expectativas, crenças julgadas universais, necessidades emocionais, experiências passadas e, também, sentimentos de ligação extremamente fortes, que podem toldar a forma como nos relacionamos (com os outros e/ou com os eventos). Da mesma forma, sentimentos como insuficiência, medo, dependência emocional, controlo, culpa, vergonha ou raiva estão muitas vezes na origem de bloqueios à livre expressão nos relacionamentos (com os outros ou com eventos externos). Tudo isto gera tensão e, consequentemente, ruído no relacionamento. Com o passar do tempo, se mantidas, geram-se frustrações e expectativas defraudadas. A falta de comunicação aberta gera ideias falsas e/ou erróneas, e o acumular do que devia ser e não é conduz a um maior afastamento e mal estar. As acusações de parte a parte sucedem-se, o apontar do dedo acusatório, e nenhuma delas observa o que realmente está na base da (in)felicidade. Nesses momentos não há real ligação... há afastamento. E é comum, nesses momentos, colocar-se a "culpa" da infelicidade no outro. No momento em que isso acontece, ocorrem duas coisas pouco eficientes, e talvez até injustas:
Nenhuma destas situações irá gerar, alguma vez, um relacionamento saudável. Nem a possibilidade de eficazmente actuares sobre os contextos que te possam ser desagradáveis. Mas se ao invés disso:
E é nesse momento que os relacionamentos florescem e se fortalecem, livres de imposições e obrigações, de deveres e haveres. É quando a aceitação e o amor incondicional se vivem na prática que os benefícios mais se evidenciam. Nalgumas situações, talvez pareça ser muito desafiante. Afinal, será desejável que a outra parte faça algo de semelhante. Mas o exemplo pode vir de algum lado... . e talvez comece por ti. O que é verdadeiramente importante na tua felicidade? A Joana detestava o seu trabalho. Queixava-se do sacrifício que fazia todos os dias para ir trabalhar, e que o seu sonho profissional não estava, de todo, a ser vivido. Enquanto descrevia esta situação, a sua expressão era de dor e cansaço, e todo o corpo se fechava em si mesmo.. A pergunta óbvia surge naturalmente - "O que te impede de seguires o teu sonho?" - e a resposta não podia ser mais comum - "O meu sonho paga muito pouco, e seria difícil viver com aquele dinheiro." "E esse dinheiro que ganhas neste trabalho, compensa assim tanto?" A Joana acenou que sim com a cabeça, e após lhe solicitar alguns exemplos, explicou: - "Permite-me providenciar conforto à minha família, e ter a satisfação de lhes dar um lar seguro e confortável. Adoro ver os meus filhos felizes na escola que tanto gostam, e de poderem desenvolver os seus passatempos com alegria e entusiasmo. Gostamos muito de ir passar férias fora uma vez por ano, e não dispensamos alguns fins-de-semana de passeio em família a conhecer os vários recantos deste nosso país encantador. Ocasionalmente... bem, várias vezes, tenho jantares com as minhas amigas e divertimo-nos imenso, especialmente com a Maria, que é a minha grande amiga de infância. Gosto de ir ao cinema com o Paulo, só os dois, e comermos aquele balde de pipocas como se fossemos adolescentes, e de vez em quando deixamos os miúdos nos avós e passamos a noite num hotel após o cinema. É a nossa noite! E nos aniversários, fazemos sempre algo diferente e especial." Quando acabou de descrever o quão importante era o seu rendimento, a sua expressão era de felicidade. Diria, até, de imensa felicidade. Todo o corpo se abriu, agora mais expansivo e enérgico, enquanto emanava uma certa serenidade. Era uma pessoa totalmente diferente da anterior. Foi nesse momento que percebeu que, afinal, gostava muito do seu trabalho. PS: personagens e contexto fictícios, baseados numa situação real. Ter uma intenção clara é uma excelente forma de manter o foco e limpar o caminho a seguir...8/4/2018 Aquele momento em que te agarras à tua ideia de ti que está no passado, sem compreenderes ainda a amplitude da inevitável mudança que estás a abraçar e que receias viver.
Sabes aquele ditado popular que afirma "quem corre por gosto não cansa"?
Bem... cansa, mas não gera sofrimento. Eis como diferencio a dor do sofrimento: A dor é o que acontece e o sofrimento é como nos relacionamos com isso. A dor sente-se no momento, o sofrimento sente-se por antecipação, recordação ou profundo desacordo com o que está a ocorrer. Dor é o custo que se sente no momento em que acontece. Por exemplo:
A dor é inevitável. Faz parte do processo. Sem ela, não teríamos a mínima noção do que está a acontecer, da sua importância, do seu impacto. É importante sentirmos dor. Ajuda-nos a fazer escolhas mais acertadas, a aprender e evoluir. Sofrimento resulta da forma como nos relacionamos com o que acontece, e neste caso, com a dor. Por exemplo:
O sofrimento é opcional. Por norma, corresponde a um desafinamento interno ou da colocação do foco na limitação ao invés da possibilidade. O significado da dor resulta de vários factores tais como crenças, experiências passadas, cultura social, etc. O foco, que pode definir o significado como resultar dele, é a colocação da nossa energia num determinado aspecto da dor, e por norma naquilo que está fora do nosso controlo. Por exemplo, alguém importante partiu, e isso dói emocionalmente. Pode surgir o sofrimento pelo foco na sua ausência, naquilo que poderia ter sido e não foi e/ou naquilo que poderia vir a ser e nunca será. Mas ao colocarmos o foco nos momentos partilhados, nas emoções vividas em conjunto, na experiência partilhada, o sofrimento desaparece, e poderá até dar lugar a outras emoções como a alegria. Isso não diminui a dor, mas anula o sofrimento. Não anula o choro, mas gera leveza e preenche por dentro. Faz parte da experiência humana sentir dor, tristeza, dores musculares, exaustão... O sofrimento, por outro lado, resulta da construção da mente por interpretação ou julgamento, e raramente pelo que está efectivamente a ocorrer no momento presente. A dor e real e presente. O sofrimento é construído e alucinado. Pode doer ver alguém com dor. O sofrimento resultante dessa situação já depende da relação que se estabelece com esse processo de dor, quer da outra pessoa quer de quem observa. E no entanto, sofre-se. E quando se sofre, pode-se sempre observar esse processo, e escolher como lidar com essa dor de forma diferente. Verdi era um génio!
Mas isso agora não interessa nada. Nunca liguei muito às histórias que as óperas representam, com algumas excepções. Quando a minha curiosidade me leva a procurar a história de uma ópera, algo acontece à forma como passo a ouvir e a sentir as vozes, os coros, as melodias instrumentais, os silêncios... e normalmente prefiro a magia antes sentida. Aquela que cria imagens e enredos na minha imaginação, somente pelos sons captados. Então, passo por um período de "esquecimento", até retornar a um estado semelhante ao inicial. Mas nunca é igual. Mesmo que nunca chegue a saber da história. Ao longo do tempo, e a cada momento, a percepção muda, e assim os sentimentos. É mais ou menos como em outras coisas do dia-a-dia... nunca é igual, e será sempre uma primeira vez... Hoje, dois amigos partilharam a descriminação racial que sentiram na pele. A amiga, originalmente do Sri Lanka, a trabalhar e a residir nos EUA, foi descriminada por brancos. O amigo, nascido e criado num pequeno país africano e que fala fluentemente o dialecto local, foi descriminado por negros compatriotas.
Ambos reagiram de formas diferentes. Ela reagiu com segurança e sem se rebaixar ao mesmo nível, respondendo com inteligência aos comentários que lhe foram dirigidos (não importa aqui repetir essa parte da história) mas por dentro sentiu-se revoltada, frustrada e triste, precisando de desabafar os seus sentimentos. Ele reagiu com naturalidade, seguro dos seus direitos de estar onde está e a contribuir positivamente para o seu país, sentindo que algumas pessoas são simplesmente ignorantes e é o que é, e deu o exemplo da sua história à amiga. Não sei qual a melhor resposta a dar nestes casos. Provavelmente, nem existe uma resposta certa, e tudo depende de cada contexto. O que quero aqui relevar é: quando te descriminam, como te sentes e porque (achas que) sentes o que sentes? Tenho estado a pensar nesta questão durante parte do dia, e cheguei à conclusão que a única forma de nos sentirmos mal pela descriminação é: (i) identificarmo-nos com a descriminação a algum nível mais ou menos consciente, e/ou (ii) termos expectativas de como o mundo deveria ser e não o é. No primeiro caso, mesmo que conscientemente não te identifiques com o que te é dirigido, convido-te a refletires profundamente na origem dos teus sentimentos. Podes descobrir algo interessante sobre o teu sistema de crenças e sobre a forma como validas a tua existência, os teus valores, os teus comportamentos. No segundo caso, convido-te a observares as tuas expectativas e a forma como te relacionas com elas. Provavelmente, poderás libertares-te das expectativas, abraçando a realidade tal como ela é. E nesse processo, descobrires novas formas de te relacionares com essa realidade, ganhando poder de acção sobre a mesma. É que, muitas vezes, estamos tão mergulhados nas expectavas, que nem reparamos nas oportunidades que nos rodeiam. Por fim, e voltando à descriminação, existem muitas formas diferentes de lidar com elas, especialmente quando tomamos consciência que provém de pessoas que demonstram ignorância, medo, falta de auto-estima, e que devem estar em tal ponto de sofrimento que a única opção que conseguem identificar é o rebaixamento do outro. Talvez uma forma eficaz de lidar com isso seja pelo exemplo daquilo que queres ver à tua volta, pela compaixão. Mas isso já é outra história. Por vezes observo um grande sacrifício em nome de um futuro supostamente seguro. É importante trabalhar agora, sacrificar o tempo, esforçar a mente, explorar o físico, em nome de uma segurança futura em forma de reforma, prémio ou estatuto.
E eu vejo o futuro é tão incerto. Esse tal futuro, o da reforma, prémio ou estatuto, é tão abstrato, que mesmo ao virar de uma esquina os caminhos se poderão desviar. Estratégias governamentais alteram-se, economias colapsam, acidentes sucedem-se. E também surgem oportunidades impensadas, ganham-se prémios inesperados ou heranças imprevistas. O que quer que aconteça, acontece, e a única forma de lidar com isso é quando acontecerem. "Mas... isso significa que posso relaxar e fazer apenas o que me apetecer a cada momento?" Sim... e não! Faz aquilo que fizer sentido para ti. Contrói a tua segurança dentro dos teus limites e importância, e que não seja à custa do teu presente. O teu presente é verdadeiramente um presente... a única riqueza que possuis a cada momento, Desfruta-o! |
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