A pergunta óbvia surge naturalmente - "O que te impede de seguires o teu sonho?" - e a resposta não podia ser mais comum - "O meu sonho paga muito pouco, e seria difícil viver com aquele dinheiro."
"E esse dinheiro que ganhas neste trabalho, compensa assim tanto?"
A Joana acenou que sim com a cabeça, e após lhe solicitar alguns exemplos, explicou:
- "Permite-me providenciar conforto à minha família, e ter a satisfação de lhes dar um lar seguro e confortável. Adoro ver os meus filhos felizes na escola que tanto gostam, e de poderem desenvolver os seus passatempos com alegria e entusiasmo. Gostamos muito de ir passar férias fora uma vez por ano, e não dispensamos alguns fins-de-semana de passeio em família a conhecer os vários recantos deste nosso país encantador. Ocasionalmente... bem, várias vezes, tenho jantares com as minhas amigas e divertimo-nos imenso, especialmente com a Maria, que é a minha grande amiga de infância. Gosto de ir ao cinema com o Paulo, só os dois, e comermos aquele balde de pipocas como se fossemos adolescentes, e de vez em quando deixamos os miúdos nos avós e passamos a noite num hotel após o cinema. É a nossa noite! E nos aniversários, fazemos sempre algo diferente e especial."
Quando acabou de descrever o quão importante era o seu rendimento, a sua expressão era de felicidade. Diria, até, de imensa felicidade. Todo o corpo se abriu, agora mais expansivo e enérgico, enquanto emanava uma certa serenidade. Era uma pessoa totalmente diferente da anterior.
Foi nesse momento que percebeu que, afinal, gostava muito do seu trabalho.
PS: personagens e contexto fictícios, baseados numa situação real.