- "Dormimos diariamente com dois estranhos."
Essa parte do livro, de desenvolvimento pessoal, centrava-se dos relacionamentos amorosos, assente numa cultura monogâmica. E claro que podemos transpor para outras realidades, como o políamor, por exemplo.
A intenção da frase é que mal nos conhecemos a nós próprios, quanto mais a(s) outra(s) pessoa(s) com quem partilhamos um projecto de vida. E daí o dormirmos com dois estranhos - o outro e nós próprios. E não é um estranho no sentido assustador do termo. É um estranho no sentido em que há tanto ainda por descobrir, tanto a que nos podemos permitir surpreender, aprender e crescer a cada momento, que faz com que esta experiência subjectiva humana seja absolutamente fascinante. E esse fascínio apenas termina no momento em que nos acomodamos a uma "imagem estática" ou comparamos o outro, ou nós próprios, a expectativas construídas.
E de tempos a tempos surge a surpresa, algo novo, por vezes inesperado.. Dá-se uma mudança, por pequena que seja. há uma nova atitude, uma nova orientação, uma reviravolta. E isso não é mau nem bom, é apenas o resultado da descoberta, das experiências, da natural mudança constante a que estamos sujeitos. Quando observamos essa mudança à luz da consistência parece estranho, por vezes até assustador. Quando observamos à luz da curiosidade, há a descoberta dessa novidade, e que pode ser refrescante e revigorante.
Ter a sensação de que se conhece o outro é uma ilusão. Podemos identificar padrões, e com isso até antecipar comportamentos. Conhecer é algo mais profundo. E se nem a nós próprios nos conhecemos profundamente, de quem temos acesso aos mais íntimos pensamentos e sentimentos, como podemos presumir que conhecemos o outro?
Eu acrescentaria algo à frase inicial. No dia em que deixemos de dormir com estes estranhos que nos são tão próximos, esta coisa dos relacionamentos deixa de ter piada. Deixam de existir surpresas. Deixa de existir a oportunidade da descoberta e aprendizagem. A vida torna-se um aborrecimento, e os relacionamentos perdem todo o sentido. É neste reencontro do outro e de nós próprios, que nos descobrimos e crescemos. É nesta abertura ao desconhecido que aprendemos e evoluímos.
Deixo uma proposta de reflexão que talvez queiras abraçar agora:
- Qual a parte de ti que ainda não descobriste, e que ao descobrires te abre uma nova possibilidade, um novo caminho, talvez até te proporcione a tua nova grande aventura?