- Mas... como assim? Que tens para não dizer?
- Não digo... não posso dizer.
- Ok! Que sensação é essa que não te permite partilhar?
- Não digo... não digo da cabeça pesada, que pende de tanto peso que tem, do corpo dorido e curvado do cansaço, da alma que dói sem doer, dos passos arrastados de não saber onde pisar, do olhar que não vê de tão vazio que está, do pensamento que estagnou no tempo e não evolui, do medo de nada e do tudo sem explicação, da solidão... oh, a solidão que sinto e que me perde na inexistência, do acordar cansado e mesmo assim encontrar forças para me levantar e depois olhar no espelho e não me ver, da dor no peito que me rebenta as costelas como se detida em cativeiro até à morte, do grito que dou sem gritar, do não saber... não saber nada e adivinhar terrores. Não posso dizer, que dói só de pensar.
- E se dissesses?
- Tudo deixaria de existir!
(Fevereiro de 2013)