Porquê? Talvez porque sonhei com isso mesmo...
Tive um sonho em que, num dado momento numa casa desconhecida e pouco cuidada, fui picado por um insecto, do tipo diplópode, que tinha um ferrão pontiagudo e forte em forma de anzol. De alguma forma misteriosa, esse diplópode caiu-me na mão (é um sonho, logo, tudo pode acontecer sem explicação aparente) e, provavelmente assustado com o meu momento, ferra-me com o seu "anzol" bem fundo na carne (de notar que o dito anzol era quase tão grande como o insecto). A dor foi intensa como, imagino, eu tivesse efectivamente cravado com um anzol bem dentro da minha carne. No sonho, pedi a um amigo com que estava nesse momento que me retirasse o diplópode, o que fez prontamente... e nesse instante acordei!
Curiosamente, a dor permaneceu durante mais uns 30 a 40 minutos. Nada fiz para a retirar. A intensidade foi baixando e por isso não me incomodou particularmente, mas manteve-se presente com oscilações de intensidade até desaparecer.
O qu é que isto significa?
Nese caso foi um sonho, mas a minha curiosidade por este tipo de fenómenos desde há mais de uma década já me levou a imaginar, conscientemente, lesões em partes diferentes do corpo gerando dores físicas, por vezes muito fortes, como se estivesse de facto lesionado. Acho este processo fascinante e cheguei a testá-lo por várias vezes. A isto se chama "nocebo". É o inverso de "placebo", que é o processo de resolução de um problema físico usando a mesma estrutura. Por favor, não confundir com o ignorar do eventual problema - se existe alguma coisa, tal deve ser lidado de forma adequada.
Existem vários livros onde os efeitos nocebo e placebo foram documentados a partir de diversos estudos por parte de cientistas e profissionais da medicina, e um deles, que achei particularmente interessante e fácil de ler, foi este:
"Mind Over Medicine: Scientific Proof That You Can Heal Yourself Paperback"
~ Lissa Rankin M.D. (Dez, 2014)
(tem uma palestra no TEDx Talks: https://goo.gl/RJ4hRy)
No meu treino desportivo, deparo-me frequentemente com lesões, minhas e dos meus colegas de treino, e o que observo repetidamente é a minha rapidez de recuperação sem tratamento face à geralmente mais lenta recuperação dos meus colegas (não de todos) com tratamento especializado. A falta de dados concretos sobre estes casos não me permite afirmar que o placebo é, nestes casos, determinante (não existe estudo comparativo das minhas lesões face à desses colegas, por exemplo), mas alimento a crença de que o nosso corpo tem mecanismos de recuperação fantásticos e eficazes, quando bem utilizados e alinhados. Aliás, as próprias farmacêuticas contam com isso mesmo!
O que também observo, e no meu caso pessoal também, é que por vezes parece ser mais fácil acreditar no efeito de algo externo a nós próprios (um medicamento, uma massagem, um tratamento de qualquer espécie) que na nossa própria capacidade de auto-regeneração sem essa intervenção externa.
Voltando à dor na minha mão esquerda, não sei se a dor foi causada pelo sonho ou se foi causada por alguma situação pontual e desconhecida, e que o meu inconsciente a traduziu no sonho para um ferrão de um insecto. Sei que essa dor foi forte e que passados os cerca de 30 minutos, desapareceu totalmente.
Interessantes, estes nossos mecanismos psicológicos e físicos, não são?