O video está excelente pela forma como demonstra os diferentes sentimentos que as pessoas experimentam quando confrontadas por algo aparentemente desafiante e que nunca antes fizeram. Nenhuma destas pessoas alguma vez tinha saltado para a água e uma altura de 10 metros de altura. 67 pessoas foram convidadas a experimentar, tendo sido pagas para isso, participando assim num estudo documentário sobre a superação de desafios. 70% acabaram por saltar. A pressão social (as outras pessoas lá em baixo à espera), as suas expectativas, a sua vontade, a imagem que têm de si, a imagem que pensam que os outros têm de si, todo um vasto conjunto de factores a influenciar uma ação que se resume a: "Salto, ou não salto?"
Por volta de 2010 ou 2011 fiz uma experiência de Coastering perto de Sesimbra. O mar era gelado, apesar da época primaveril. Nessa experiência, fomos confrontados com mergulhos e escaladas por forma a completarmos um percurso previamente definido pela organização. Foi divertido e recomendo vivamente.
Num dado momento houve a oportunidade de saltar de uma pequena base a meio de uma grande escarpa (uma pequena rocha pontiaguda, saliente na escarpa). Essa base situava-se a cerca de 12 metros de altura do nível da água. Os mais corajosos escalaram e saltaram lá de cima, com visível ânimo e facilidade. Afinal, não era assim tão alto. Então decidi aliar-me a esse pequeno grupo de corajosos. Escalei e cheguei ao topo. Daquele pedaço de rocha que mal servia para mim, vislumbrei o mar azul turquesa lá em baixo. A boiar estavam alguns dos outros participantes do grupo de Coastering. Naquele instante tive um acesso de miúfa! A altura era enorme, as pessoas pareciam formigas, o mar parecia uma base sólida na qual facilmente me poderia esborrachar. Saltar estava fora de questão, descer pelo sitio que subi não era tarefa fácil, e mais meia dúzia de novos corajosos seguiram atrás de mim. Bonito! Estava feito à carne picada!
Esta história real, tal como o video, é metafórica. É metafórica porque representa tantas situações nas nossas vidas pessoais e profissionais. Tantas encruzilhadas, tantos desafios, tanto desconhecido por desvendar.
Frequentemente deparamo-nos com situações partidas - parte de mim quer uma coisa, parte de mim quer outra. Parte de mim quer aventura e parte de mim quer segurança. Parte de mim quer reconhecimento e parte de mim quer simplesmente fazer parte de um grupo maior que eu próprio. Parte de mim quer avançar com a carreira, seja por onde for, e parte de mim quer ficar com a família e amigos. Parte de mim quer ficar em Portugal e parte de mim quer experimentar o mundo. Há tantas situações em que nos sentimos divididos, e a tomada de decisão parece ser impossível. Se escolhemos uma coisa, perdemos a outra. E quando finalmente tomamos uma decisão, emerge a dúvida de como seria se tivéssemos tomado o outro caminho. E depois há o rol de acusações quando alguma coisa corre menos bem - "Se tivesses ido pelo outro caminho, nada disto tinha acontecido!"
O mesmo se passou quando subi àquela ínfima base a 12 metros de altura (segundo me informaram , que não tinha nada que confirmasse os 12 metros). Naquele momento, olhei para baixo e senti a tal miúfa. E muita! Parte de mim estava determinada em saltar, e parte de mim estava determinada em manter a segurança. Parte de mim queria uma experiência nova, e parte de mim queria salvaguardar a integridade física e emocional da minha pessoa. Parte de mim queria mostrar que é capaz, e parte de mim queria simplesmente mostrar que coragem também pode ser dar um passo atrás.
Estas aparentes divisões são o paradoxo do nosso dia-a-dia. Queremos coisas diferentes quando, no fundo, todas as partes querem a mesma coisa - manter-nos vivos, sãos e activos. Então, como fazer?
Naquele caso, estive alguns minutos em conversa com as partes. A parte que queria experimentar acusava a outra de frouxa e xóninhas. A parte que queria segurança acusava a outra de louca e irresponsável. A experiência acusava a segurança de medricas, e a segurança dizia à experiência que, para experiência nova e diferente, bastava fazer um gelado de lentilhas, perguntando se por acaso se lembrava do filme "Mar Adentro". Eu estava li no meio, nem saltava, nem descia, e começava a ser um empecilho para todos os restantes que queriam saltar a seguir a mim.
Por fim, fizeram-se as pazes. A parte que queria a experiência percebeu que a outra só queria o seu bem estar - manter a sua segurança e longevidade. E a parte que seria a segurança percebeu que a experiência só queria novidade - aprender coisas novas e sair da rotina. Ambas tinham a ganhar se juntassem esforços. Foi então que a segurança observou o espaço à sua volta e delineou um salto que garantisse o melhor resultado (profundidade percebida de cada zona e o melhor local para cair na água, melhor postura durante o salto, acções a desenvolver em caso de alguma coisa correr menos bem, rochas salientes a evitar, etc.). A experiência responsabilizou-se por assegurar o cumprimento do plano, assim como registar todas as sensações para que no futuro a segurança pudesse estar ainda melhor acautelada, e assim ambas aprenderem e evoluírem com o desafio.
O salto foi concretizado com um abraço da experiência à segurança, para que se sentisse tranquila, e um sorriso e entrega da segurança, para que a experiência se sentisse acompanhada. Eu, pessoalmente, achei o salto bastante fácil. Chegado cá abaixo, depois do mergulho e subida à superfície, o meu primeiro pensamento foi "Então... afinal é só isto?!?" Ri-me daquele debate entre as partes, e segui em frente para os desafios seguintes, agora mais confiante.
As nossas decisões não precisam ser partidas. Todas as nossas partes têm uma intenção positiva. E é no encontro dessas intenções positivas que podemos seguir em frente com serenidade e isenção de esforço. Não é que as coisas passem a ser fáceis. Elas passam a ser mais naturais, E se alguma coisa correr menos bem, não há partes a apontar ao dedo com afirmações do tipo "Eu bem te disse!". O que acontece é que as partes se unem na resolução de quaisquer obstáculos que surjam no caminho, satisfazendo todas as intenções positivas da melhor forma. Isto significa novas descobertas, aprendizagens e crescimento. E a isto se chama de evolução!
Integrar partes que aparentam querer coisas diferentes pode ser uma experiência reveladora, e simultaneamente libertadora.
"Our objective in making this film was something of a psychology experiment: We sought to capture people facing a difficult situation, to make a portrait of humans in doubt. We’ve all seen actors playing doubt in fiction films, but we have few true images of the feeling in documentaries. To make them, we decided to put people in a situation powerful enough not to need any classic narrative framework. A high dive seemed like the perfect scenario."