Agarramo-nos a ideias e crenças e desejos e mastigamos sem fim. Mastigamos e quebramos em partes mais pequenas, em papa. E em vez de darmos seguimento, continuamos a mastigar.
As coisas perdem sabor, perdem cor, perdem cheiro, perdem forma... e tornam-se desagradáveis. Mas continuamos a mastigar, como se isso fosse obrigatório. Como se isso fosse o que deveria ser. Mastigamos porque não queremos engolir. Não cuspimos porque achamos errado, feio, desrespeitador... ou porque de alguma forma nos incutiram que isso é desistir, e desistir nunca!
Estamos num impasse. Não cuspimos nem engolimos. E então mastigamos. E por vezes mastigamos durante anos, décadas... Por vezes torna-se normal, um costume, parte da vida. Mas não é. Estamos apenas a manter uma coisa que não queremos ou temos medo de assumir ou de saborear. E continuamos a mastigar.
Sabemos, no nosso íntimo, que ao continuarmos a mastigar estamos a adiar o inevitável, a negar um processo, a negarmos-nos a nós próprios. E continuamos a mastigar.
Não engolimos porque não queremos, porque temos medo, porque não sabemos como será depois. E se fizer mal? E se fizer bem? E o que mastigamos depois disto? Será pior? Será melhor?
Não cuspimos porque já trincámos, e deitar fora é feio. Achamos errado. Achamos que é desistir. Achamos que é dar um passo atrás. Achamos que é contradizer o que antes achamos certo.
O medo impede-nos de avançar. O erro impede-nos de avançar. E mais importante que engolir e descobrir, mais importante que cuspir e seguir em frente, é desistirmos de nós mesmos, da nossa capacidade de saborear a vida, de viver cada momento com intensidade, com todos os sabores e aromas e cores. E mastigamos este bolo alimentar sem sabor, sem cheiro, sem cor. Porque isso é mais importante, não é?