- o medo é falso!
Mas será o medo SEMPRE falso?
O medo é uma emoção natural. Faz parte do nosso sistema como resultado da evolução da nossa espécie ao longo de.... bom, imaginemos muito, muito, muito tempo, e multipliquemos isso por... muito tempo. Se tivermos em conta a teoria actual da evolução, o homem moderno tem aproximadamente 200 mil anos de gerações, sem contar com os milhares ou milhões de anos de evolução das espécies que deram origem ao homem moderno. |
Contudo... ah... contudo!!! Pois...
O medo surge, assim, como um alerta de risco de vida, mas agora associado a questões que nada têm a haver com riscos de vida. E é ai que surge o outro extremo: o medo é falso! Temos o mesmo medo que teríamos se estivéssemos perante um terrível ogre esfomeado, mas à nossa frente temos apenas um colega de trabalho, um cliente ou aquela pessoa especial que tanto queremos "conquistar".
E que sentido faz isto?
Talvez faça algum sentido...
Bom... o medo não é falso. Apesar de tudo, continua a representar um sistema de segurança útil e benéfico à nossa sobrevivência... social. Ou seja, consideremos o medo como um alerta. A questão está em como lidamos com essa emoção tão natural como a alegria. Queixa-se da alegria? Provavelmente, não. Faça o mesmo para o medo.
Tendo a capacidade de imaginar o futuro, é normal que comecemos a sentir medo em relação a cenários que, na nossa imensa e prodigiosa imaginação, se possam tornar reais. Até aqui tudo bem. Eu quero saltar de para-quedas e sinto medo porque, antes de saltar, começo a desenhar um conjunto de cenários entre os quais se encontra um, ou mais, em que me esborracho no chão após uma queda livre de cerca de 3 ou 4 mil metros de altura... porque me esqueci do pára-quedas?!?
Isto é importante... o meu sistema alerta-me para uma possibilidade de risco de vida.
O mesmo se pode dizer com atividades em que a vida não se encontra em risco. Tenho uma reunião importante amanhã e onde me vou expor. Sinto medo. Óptimo! O meu sistema está-me a alertar de que existe pelo menos um cenário em que algumas situações podem correr de forma desfavorável à minha pessoa, ou aos resultado que pretendo alcançar.
Até aqui, perfeito!
Obrigado por me estares a alertar.
Obrigado por me lembrares que isto é realmente importante para mim.
Obrigado por me manteres alerta sobre aspectos que eu poderia estar a negligenciar... nomeadamente, esquecer-me do pára-quedas.
E agora?
Agora actua-se... O medo só não é real no sentido em que se baseia num cenário hipotético. Um momento possível num futuro mais ou menos próximo. É o resultado do pensamento alicerçado na imaginação. Não está a acontecer. O que está a acontecer é algo diferente... bem diferente. O que grande parte das pessoas fazem com esse medo é reprimi-lo. E nunca chegam a compreender a sua essência. O medo permanece, mas é evitado. Olha-se para o lado, assobia-se e faz-se de conta que está tudo bem. |
O medo tem um propósito. E esse propósito é alertar-nos para algo. Alertar-nos para a possibilidade do para-quedas não abrir, por exemplo. Alertar-nos para a possibilidade de nos ser feita uma pergunta para a qual não temos resposta, ou sobre um tema para o qual estamos pouco preparados.
E então?
- É aceitar.
Aceitar a emoção tal como ela é. Ela existe, não há como evitar. É escusado.
Aceitar a emoção é fundamental, e só assim se consegue lidar com ela. - Observar a sua estrutura.
De onde vem, como se apresenta, o que a espoleta?
Observar a sua estrutura ajuda-nos a compreender o seu mecanismo. E compreendendo o mecanismo consegue-se operar sobre ele. - Ouvir... escutar a mensagem.
O que é que o medo nos está, efectivamente, a transmitir?
Qual é a mensagem? - Avaliar
Isto faz sentido?
Está fundamentado?
O que é que eu posso fazer agora para evitar ou diminuir os impactos que esta mensagem me transmite?
Avaliar?
Ou seja...
Segundo o Skydive Portugal, as pesquisas francesas com base em estatísticas mundiais para desportos considerados perigosos indicam que, em primeiro lugar, se encontra a Asa Delta como desporto mais perigoso. Depois o Alpinismo, seguido de BTT. Por fim o, Mergulho e o Automobilismo. Só em sexto lugar surge o pára-quedismo. O pára-quedismo é, sem dúvida, um desporto de risco. Porém, este risco é minimizado por uma série de equipamentos e atitudes que contribuem para tornar este desporto cada vez mais seguro. Atualmente, o paraquedismo moderno é extremamente seguro.
O que posso fazer, então?
Cumprir todos os procedimentos de segurança e mais alguns que considere necessários, ter uma atitude adequada à atividade em questão, e reconsiderar se isto é mesmo para mim. Cumpridos estes pressupostos - aceitar, observar, escutar e avaliar - é o momento de atuar em conformidade e seguir com a decisão tomada. Possivelmente com algum nervosismo... ou não fosse um humano normal.
É bom lembrar que o medo é um alerta com base em cenários, e que isso nada tem a haver com o perigo que, dependendo dos contextos, pode ser bem real.
No caso da reunião, em que é que eu ainda não me preparei o suficiente? O que posso fazer mais para estar melhor preparado? Que cenários não considerei e que convém preparar? Qual o custo/benefício de todo este trabalho adicional? Há tempo para fazer estas ações ou a reunião começa já dentro de 5 minutos? Compensa... não compensa? Já fiz tudo o que está ao meu alcance agora? Nesse caso, está tudo bem.
O medo, nestes casos, deixa de existir. É como se fosse alguém a reclamar por atenção. Quando damos a atenção adequada, tudo fica bem. Quando não damos, a necessidade de atenção aumenta. Assim é o medo. É uma emoção natural e positiva, que pode ser um excelente aliado em inúmeras situações... se soubermos lidar com ela.
E a estrutura?
Pois... a estrutura. É que, por vezes, o medo não surge como resultado do pensamento sobre um cenário hipotético. Há medos baseados em experiências passadas - traumas, memórias reprimidas, associações emocionais - onde por norma existe alguma dificuldade em racionalizar e ultrapassar.
Um dia conheci um homem que tinha a consciência de que a sua crença era desprovida de qualquer sentido. Ele acreditava que, se comesse uma ostra crua, o seu organismo reagia muito mal com resultados nefastos ao seu equilíbrio fisiológico e psicológico. Podem imaginar ao que me refiro. O certo é que ele não gostava de ostras cruas, mas adorava-as cozinhadas, especialmente em omelete. Um dia decidiu provar uma crua e, por não gostar, por nojo ou porque simplesmente lhe caiu mal naquele momento, teve uma experiência extremamente negativa durante o resto do dia. Sempre que pensa em voltar a provar uma ostra crua, começa a sentir-se mal e acaba por não provar. E ele diz... "eu sei que isto é estúpido e que não existe qualquer motivo para me sentir mal... mas é assim".
O que quero salientar é que o nosso sistema cria associações, por vezes inesperadas, de emoções com determinados eventos, e nem sempre com relações de causa-efeito. Essas associações podem tornar-se fortes e difíceis de alterar racionalmente. Não resultam do nosso pensamento, estando neurologicamente programadas para ocorrer sempre que se verifique determinado evento. Nestes casos, a questão do medo poderá ter de ser lidada de uma outra forma, e poderei abordar este tema num artigo futuro. Ainda assim, é sempre positivo elevar à consciência a estrutura visível dessa emoção, o que também pode ajudar a médio prazo.
E agora... que se siga a aventura...
Post Scriptum:
Gostaria de acrescentar dois pontos:
- Nem tudo o que o que surge publicado na internet é credível, incluíndo este artigo. Escrevo-o com a melhor das intenções e com base nas minhas observações e experiências.
Utilize o seu próprio discernimento. Experimente. Avalie com base nos seus resultados, e experiência de vida. Observe sobre novos pontos de vista, e retire as suas próprias conclusões. - Por vezes encontram-se pequenas pérolas... como "não há nada a temer senão o próprio medo"... ora, se não há nada a temer... hummm...