Na altura, a minha vontade de andar de bicicleta era grande. Tão grande que nem as muitas quedas de meio em meio metro abalavam a minha determinação. E quando após dezenas de investidas só conseguia progredir 1 ou 2 metros, não foi a falta de capacidade de o fazer em linha recta que me fez questionar se teria a competência para o fazer. Nada, mas mesmo nada, me fez sequer hesitar sobre o objectivo: passear de bicicleta e partilhar essa aventura com outras crianças.
Hoje, observo-me a mim e muitos adultos à minha volta desistirem facilmente do desenvolvimento de uma nova competência, de um objectivo, de um sonho. Isso, em si, não tem qualquer problema... excepto quando se torna num padrão de fuga à exposição, à vulnerabilidade do falhanço e das emoções que normalmente o acompanham. Pior que isso, é a desistência de algo que pode ser tão relevante nas nossas vidas, com a consequente perda de paixão, de vivacidade, de um viver de peito cheio e um sorriso aberto. O medo de não conseguir, o medo de fazer "má" figura (seja lá o que isso for) o medo de sofrer, transforma-se gradualmente num rol de desculpas e justificações, de obrigações sociais do que acreditamos ser esperado de nós.
Naquela meninice ingénua, continuei a empenhar-se, uma e outra vez, sem querer saber do que os outros pensam ou acham, e sem sequer saber se o conseguiria atingir ou não. Nalgumas ocasiões até tive ajuda.. . alguém que me segurou atrás por alguns momentos, ou deu algum conselho bem intencionado. Mas no fim, era apenas a minha vontade, o meu sonho, o meu percurso, e apenas importava o que escolhia fazer para lá chegar. Sem expectativas, sem dúvidas, sem se's. Eu, o sonho, e os meios à minha disposição, com toda a energia que conseguia colocar em ação.
Ao longo da vida somos expostos a inúmeros desafios, e aos processos de aprendizagem e evolução. Na carreira, num relacionamento, na saúde... e são muitas as novas competências a treinar e desenvolver. E é sempre uma escolha aquelas que decidimos fazer parte do nosso percurso, de como decidimos lidar com elas, e ao que, ou a que vozes, escolhemos da mais atenção. E eu, naquele metro de altura, escolhi andar de bicicleta, lidar com essa aprendizagem com curiosidade e determinação, e decidi dar mais atenção à minha voz interior.
E tu, ao que dás mais atenção? O que privilegias na tua vida?
No momento em que te lanças num projecto, profissional ou pessoal, escondes a tua vulnerabilidade, ou dás liberdade à tua energia natural para o que te é importante agora?
Talvez possas, nesses momentos, voltar a ser criança, e simplesmente viveres cada passo do teu sonho agora.