Penso na paragem no tempo, na procrastinação, na escolha de outra coisa, na contemplação do momento, do corpo, do tempo, dos outros, no rico aborrecimento consciente, na observação do que é pelo que é, na assistência da passagem do tempo. Vejo a chuva cair e sinto a fria aragem no meu corpo. Dou atenção às extremidades frias do meu corpo, uma de cada vez, e no centro reconfortado pela roupa que visto, e nos contrastes destas diferentes partes do mesmo corpo. Observo as pessoas a passarem em passos acelerados, com malas e sacos cheios e chapéus de chuva, sem darem atenção ao que as rodeia, cada uma aparentemente perdida nos seus diversos pensamentos, talvez até como eu. As lojas enfeitadas, as ruas decoradas e a incessante música natalícia que as acompanha. Bebo o meu café quente, tranquilo, e penso que tudo isto passa, e pergunto-me: "O que é viver, afinal?" E ausento-me de tudo isto. E permanecendo no mesmo espaço, no mesmo lugar, volto-me para dentro. Respiro fundo. Fecho os olhos. Dou atenção a cada som, a cada sensação, a cada estímulo. Os sentidos intensificam-se. É como se, num ápice, fizesse parte do todo. Sinto leveza. Sinto conexão. Sinto eternidade. Sinto expansão. Sinto o que não é possível sentir. E volto aqui, agora. Abro os olhos. Bebo o último gole do café já frio, de textura única, aroma leve e sabor intenso. E as pessoas passam. E está tudo bem.
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Dezembro 2018
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