Todo o campo relvado se encontra iluminado, transferindo à verde relva uma tranquilidade hipnotizante. E aquela árvore, no meio de outras tantas, meio esguia e escura, contrasta com a luz que a ilumina do outro lado de lá, como se a empurrasse para cá. O contraste impressiona, e a sua inclinação, quase deitada sobre a relva, como que cansada de um dia árduo de trabalho, da vida dura do dia-a-dia, dos reveses e das frustrações, do carrossel das rotinas, dos deveres e das obrigações, ignorada por quem passa, parece antecipar o dia em que deixará para trás, naquela luz que empurra, para, enfim, todos os seus sonhos em terra e, enfim, descansar em paz.
Dá vontade de lá ir, abraça-la e suspirar-lhe ao ouvido - "está tudo bem, descansa." Mas as árvores não ouvem. Apenas resistem, até ao dia que quebram de tão forte o vento, o empurrão.
Até aqui, ela permanece. Todos os dias a vejo, de manhã com um ar mais fraco, ainda que vergada sobre a relva, como se a beijasse de bons dias para um novo dia afinal igual aos outros. E de noite, naquele seu semblante aparentemente forte, sim, aparentemente, lá está quase a desfalecer sobre a relva. Meio caída, quase que a implorar misericórdia numa vénia mais disfarçada.
Porque tudo é uma mera aparência. Fortes. Fracos. Apenas parecem. Pois dadas as motivações certas, os fortes viram fracos. E dadas as motivações certas, os fracos foram fortes. Dadas as motivações certas! Como se numa balança de mercearia colocássemos meio quilograma de vontade num prato, e no outro uma mão cheia de pregos, lixas e uma marreta. E dói, andar com pegos, lixas e marretas todo o dia. Dói mais que a vontade. Mas a árvore permanece. Forte. Aparentemente forte. A relva, por outro lado, aparenta delicadeza. Uma aparente fraqueza que a tudo verga, ondula e dobra. Pisada uma e outra vez pelas crianças que nela brincam e os crescidos que sobre ela corem atrás de uma bola,. E nunca se deixa ir. Nunca.. É apenas uma aparente fraqueza. A árvore, lá está. Firme. Aparentemente forte. Talvez um dia quebre também, num dia forte de vento, como a sua irmã. A relva, essa, permanecerá, aparentemente fraca, delicada, mas forte.