Há umas semanas atrás, assisti a uma dissertação sobre a esperança por parte de um filósofo que me pareceu trazer uma nova perspectiva sobre este sentimento. Ter esperança é, para este senhor, uma demonstração de falta de responsabilidade e capacidade de acção, além de gerar estados emocionais desinteressantes. Fiquei curioso sobre essa abordagem e comecei a explorar o meu próprio sentimento de esperança, e de quais poderiam ser as bases inconscientes para esse sentimento.. E ao explorar esta matéria, descobri que já tinha chegado a conclusões semelhantes
Eis as conclusões a que cheguei, no meu caso pessoal:
- "Espero que tal aconteça" - o que se baseia na aparente incapacidade de o fazer acontecer, podendo significar que:
- me estarei a focar em algo que está para além do meu raio de acção e, por isso, se tratar de um dispêndio de energia desnecessária e inconsequente, ou
- me estarei a colocar em efeito, relegando a minha responsabilidade e capacidade de acção a terceiros, mesmo que indefinidos.
- "Espero que tal aconteça:" - o que parece significar que a alternativa é infeliz e:
- ou acontece e sito-me bem, feliz e realizado, ou
- não acontece e sinto-me infeliz, triste e possivelmente frustrado, o que também pode gerar medo antecipado.
- "Espero que tal aconteça:" - o que parece indicar que se está perante a ignorância do que pode e não pode ser e acontecer, como partes determinantes na qualidade e sucesso das nossas vidas... na nossa única sensação de felicidade.
Então, a esperança parece surgir quando algo se instala a ilusão de um desejo que não depende de nós ou, dependendo, não estamos dispostos a pagar o preço das ações necessárias à sua concretização. É fácil, porque nos desresponsabilizamos dos nossos resultados, e activamos a esperança. Parece nobre - "Eu tenho esperança!" - mas é apenas uma ilusão. Porque se o queremos de facto, fazemos. E se não o podemos fazer, então talvez estejamos focamos na coisa errada.
Curiosamente, desde há alguns anos que deixei de ter esperança como tinha antes. Desde 2012 que tenho vindo a sedimentar a crença de que somos, efectivamente, responsáveis pelos nossos resultados, sejam eles quais forem, e que se não temos os resultados que desejamos, é porque não estamos a ter os comportamentos adequados aos mesmos, embora perfeitos no seu próprio tempo e contexto. Considero-os como experiências e oportunidades de aprendizagem e crescimento.
Os exemplos de boas práticas para o que quer que queiramos abundam, e o acesso à informação nunca foi tão fácil como agora. Por outro lado, desde essa altura, 2012, que tenho colocado cada vez menos foco em coisas sobre as quais não posso operar, sentindo-me mais leve e tranquilo no dia-a-dia que anteriormente. Arrelio-me menos, frusto-me menos, e mais facilmente aceito o que é tal como é, aprendendo a lidar apenas com o que realmente é importante e sobre o que posso e estou efectivamente disposto a alterar..
Talvez, e só talvez, em vez de ter esperança, possamos acreditar e confiar. Acreditar nas nossas capacidades e competências de agir e concretizar, e confiar que tudo tem o seu próprio sentido, o seu próprio tempo, e que em qualquer circunstância e contexto, temos sempre a possibilidade de experienciar, aprender e evoluir. E talvez possamos deixar a esperança para todas aquelas coisas giras e hipotéticas, conscientes de que são apenas coisas giras e hipotéticas, cujo acontecimento ou vazio pouco importará para a nossa felicidade agora, ou futura. "Lamente um pouco menos, espere um pouco menos e ame um pouco mais." ~ André Comte-Sponville |