Nessas distrações, assume-se naturalmente um estado de culpa ou determinismo, e com isso uma natural incapacidade de ação: "Eu sou assim!" - pensam - "Não há nada a fazer." E especialmente quando o resultado é pouco relevante, nem lhe damos muito crédito.. Mas e se optássemos por outra atitude? Será que podíamos ter resultados diferentes?
Se nos afastarmos desse "empurra para lá" e observarmos atentamente a situação, conseguimos assumir a responsabilidade desse comportamento, atender devidamente ao processo que nos leva à dita distração, e atender à sua essência. Umas vezes é a ansiedade pelo que há-de vir, noutras a recriminação pelo que já foi. Há a excitação daquilo que poderá acontecer, e há também as simples construções mentais de cenários hipotéticos, desejos, fantasias ou busca de algo diferente do que é... porque o que é parece estar a ser demasiado enfadonho e nada estimulante. Por vezes, nota-se um acentuado desconforto da própria companhia, com sentimentos de solidão, que mais facilmente são ultrapassados com distrações da mente do que está lá dentro.
Então, é quando assumimos essa responsabilidade, a de olhar a distração de frente, que recuperamos a consciência da nossa ausência do agora, de nós mesmos, e voltamos a focar a nossa atenção naquilo que pode ser o mais importante naquele instante. Porque se não for importante, mais vale mudar de direcção.
As consequências das pequenas e grandes distrações são inúmeras e até difíceis de quantificar. À primeira vista podem significar uma perda de 5 minutos, um custo financeiro facilmente assimilável ou um pequeno estrago material. Noutras, podem até ter consequências fatais. Mas podem também existir perdas desconhecidas para além do imediato e observável.
Uma pequena distração pode significar o desvio do percurso traçado, oportunidades perdidas mesmo a um passo de distância, a beleza de um olhar, de um sorriso ou de uma palavras calorosa. Estes são apenas pequenos exemplos do que podemos perder numa distração. E eis que, de repente surge a questão: "Mas afinal, o que é uma distração?"
No dicionário encontramos significados tão diversos como:
- Acto ou efeito de distrair ou de se distrair;
- Acção de pessoa distraída;
- Falta de atenção;
- Irreflexão;
- Esquecimento;
- Concentração de espírito;
- Divertimento, recreio;
- Abstracção;
- Desvio de valores;
- Divisão ou separação do que estava junto ou concentrado.
E nestes significados, qualquer coisa pode ser uma distração. O sorriso que nos presenteiam num cruzar de olhares, uma nova oportunidade que se nos apresenta, uma palavra calorosa que nos dirigem, um pensamento que acabámos de ter. Qualquer destas coisas pode ser uma distração àquilo a que nos propomos fazer. Qualquer destas coisas nos pode desviar do caminho que inicialmente traçámos. Será uma distração boa ou má?
É neste momento que voltamos à definição da palavra, e nos focamos em dois significados chave: "Falta de atenção" e "Abstração". Mas não é a falta de atenção numa coisa a colocação dessa mesma atenção noutra? Não é o processo de abstração que tantas vezes nos coloca no caminho certo? E não poderá uma distracção abrir um novo caminho para algo novo, que pode desbloquear um obstáculo aparentemente difícil de ultrapassar?
É uma linha muito ténue, aquela que separa uma distração prejudicial de outra possibilitadora. Algumas das grandes descobertas terão surgido de distrações, assim como algumas catástrofes. Podemos estar a ser demasiado duros em relação à distração. Julgar os outros, assim como nós mesmos, por distrações - a tal culpa de que falámos - será pouco produtivo e pouco saudável. Até porque, quem sabe, não será essa a distração que muda a sua vida para melhor?
Mas voltemos novamente à responsabilidade do processo, observar a distracção pelo que é e atender à sua ,motivação. Por vezes pode ser um sinal de cansaço (mental, emocional e/ou físico) e um descanso de recuperação será bem-vindo. Noutras poderá desvendar emoções que poderão ser facilmente geridas no seu tempo certo, ou até mesmo nesse momento, para um progresso mais fluído. Por vezes, pode ser a oportunidade de uma vida. O importante é que, ao assumirmos a responsabilidade, facilmente nos recolocamos no momento presente, no agora, podendo operar sobre o que é de acordo com a sua importância e consequência, evitando prejuízos indesejados. E nessa decisão, podemos devolver o sorriso, o olhar ou uma palavra calorosa, e operar naquilo que verdadeiramente importa naquele instante, seja na continuação do que era ou na criação de uma nova direcção.