Não há nada que possas fazer.
O teu poder de controlo sobre o mundo é... mínimo. E estou a ser simpático. Na verdade, o teu poder de controlo é menor que um grão de areia quando comparado com a imensidão do vasto universo. E poucos sabem afirmar o real tamanho deste. Aliás, acho que ninguém sabe. Admitamos apenas que é grande, e muitas vezes maior do que qualquer de nós consegue imaginar.
Então... o que acontece, acontece! É isso?
É inevitável. Há um poder de influência que podes exercer. Sim, influência. Não controlo. Se o teu poder de controlo é o tal grão de areia (e atenção ao quadro de referência que usei há pouco), o teu poder de influência não é muito maior. E é só e apenas influência. Não quer dizer que consigas efectivamente mudar alguma coisa. Influencias. Apenas isso.
Isto gera uma sensação de pequenez. E é mesmo. Somos pequenos. Então, para quê tanto alarido? Para quê tanta preocupação?
Mas... repara bem. Pequenez não é assim tão mau. Na verdade, considero-a até benéfica. É, até, amorosa. É potente. É fantástica. É uma pequenez incrível e absolutamente inspiradora. Mas não é disto que quero falar. Estou-me a perder na maravilha que é a experiência humana, tão aparentemente insignificante e simultaneamente arrebatadora.
As coisas acontecem e pronto. É isto!
É isto que quero dizer.
Ah! Há uma coisa mais. Já que não controlas tudo. Aliás, controlas muito pouco. Permite-me lembrar-te que controlas o essencial em todo este processo - TU!
É muito simples... não controlas os eventos. Eventualmente, influencias os eventos. Mas não os controlas. Não os determinas. Acreditas que sim muitas das vezes. Eu também! E quando correm favoravelmente, lá surgem os gritos de glória e festejos de concretização. Who's the boss? Mas é uma ilusão. Não controlamos. Apenas tomamos consciência dos eventos e e acreditamos na ilusão de os ter controlado. Quanto muito, influenciámos. Conseguimos, de alguma forma, orientar um pouco para um lado ou para o outro. E isso já é um grande feito! Celebre-se, então, esse feito!
Fazemos umas cenas que por vezes correm bem. Com a experiência tornamo-nos melhores a promover determinados resultados. E vale a pena festejar isso mesmo. Hurray! Bota palmas nisso, taças de champanhe ou o que quer que uses para celebrar. Sorri, dança e segue em frente. Partilha com toda a gente. Faz bem, essa celebração. Parabéns!
Esta é a parte fácil. Quando tudo corre bem, ou mesmo que mais ou menos bem. Aproveita. Celebra.
Mas... e quando corre... menos bem?
E quando damos aquele tralho monumental? E quando fazemos merda? E quando nos encontramos num buraco tão escuro e profundo que nem a luz do sol chega lá abaixo?
Dói! Pior que isso, é desesperante. Mais... parece que estamos irremediavelmente perdidos, e cria-se a ilusão desesperada de que assim ficaremos até ao fim dos dias.
Mas não é verdade. E sabes isso.
Sabes que já passaste por muitos buracos, vários falhanços, diversos momentos de impotência, desespero e solidão, e estás aí... a ler este texto. Sabes que, seja qual for o estado em que estás agora, já ultrapassaste desfiladeiros, montanhas e tempestades. E sobreviveste. Aprendeste de forma árdua, mas aprendeste. E agora, que olhas para trás, talvez até reconheças que esses períodos são os que maior aprendizagem e força te geraram para continuares agora no teu caminho, de cabeça erguida, com a segurança de que, aconteça o que acontecer, tu escolhes dar a volta por cima, e mesmo que não saibas ainda como, e meso que doa, e mesmo que custe, a solução está aí ao teu alcance.
Mas também não era isto que queria falar...
Vamos lá ver se me oriento.
Lutar com a Vida ou Abraçar a Vida?
Podes lutar na vida, batalhar, rumar contra a maré. É difícil. Emocionalmente desgastante. E controlas muito pouco.
Então, o que fazer?
Também bodes fluir com a vida. Encontrar o rumo dentro do rumo. Aplicar o teu poder de influência, e controlares aquilo que efectivamente controlas - tu! Alinhas-te com o que é verdadeiramente importante para ti, defines as tuas intenções, e toda a tua acção começa a sair com naturalidade?
Fácil?
Nem por isso. O difícil continuará a ser difícil. As montanhas, as tempestades, fazem parte da vida. Estão no percurso. Continuam lá, a existir, a testar-nos uma e outra vez. Mas algo fica diferente. Não custa. A parte emocional, quando alinhada, promove energia, serenidade, a capacidade de discernir cada vez melhor o que vale a pena fazer, e o que podemos deixar ir. Permite-nos dar atenção aos detalhes, apreciar o momento, estar verdadeiramente presente.
A luta? Desaparece. O que fica é a vontade de agir, de seguir em consciência daquilo que verdadeiramente importa, na direcção do que queremos ver concretizado. E cada dia é uma pequena conquista. Cada dia sabe bem, por mais cansaço que possa trazer. Cada dia é uma preparação para o que queremos viver de seguida. E cada inicio de dia, uma renovada alegria pelo que se segue.
Andei a pensar nisto quando me encontrei num desses muitos buracos. Um desses em que nada chega lá abaixo, e nos encontramos sós, no escuro, sem esperança. E de repente, comecei a observar-me por dentro, a descobrir-me, a identificar, afinal, o que me é importante e o que quero. E nesse processo, dez-se dia...
Descobri, mais uma vez, que de nada adianta lutar com a vida. Ela segue, como sempre, independentemente dos teus desejos e vontades. Ao invés disso, escolho abraçar a vida. Curiosamente, ela começa-me a proporcionar pequenas grandes maravilhas. E isso, é majestoso!